A vida teatral capixaba sofreu profundas transformações com a ditadura militar depois do golpe (1964 – 1985). Segundo Duílio Kuster, este período pode ser subdivido em três fases. Na primeira, compreendida entre os anos de 1964 a 1969, existiam poucos grupos teatrais em atividade, entre eles os coletivos Geração, Equipe e Praça Oito, além de experiências isoladas como as montagens do carioca recém chegado ao Espírito Santo, Milson Henriques.

Num segundo momento, compreendido entre 1970 até o início de 1977, foi criada, pelo poder estadual, a Fundação Cultural do Espírito Santo (FCES) com o objetivo de planejar e executar a política cultural do governo. A instituição passou a desenvolver uma série de ações em prol da atividade teatral, como a reforma e reinauguração do Teatro Carlos Gomes; a contratação de espetáculos do Rio de Janeiro e São Paulo para realizarem as suas estreias em Vitória; a realização de um concurso de dramaturgia, do I Festival Capixaba de Teatro Amador e de cursos de formação dramática; a criação de grupos teatrais mantidos pelo Estado, como o Grupo de Teatro Amador Carlos Gomes e o Grupo de Teatro da FCES; a concessão de verbas para montagens teatrais e a criação de novos espaços de apresentação, como o Teatro Estúdio, também localizado no centro da capital, e o Circo da Cultura, que possuía um aspecto itinerante.

Paralelamente a isso, os artistas teatrais capixabas também passaram a sofrer com a censura imposta pelos militares, assim como ocorria nos demais estados da federação. No começo da década de 1970, ocorreu aquele que pode ser considerado um marco tanto da ação da Censura Federal no Estado quanto da reação dos artistas. Ensaio Geral foi um musical com temática de protesto e que teve o texto proibido pouco antes de sua estreia.

Com isso, a equipe optou por manter o espetáculo apenas com música e expressão corporal. Mesmo assim, no dia da realização do ensaio geral para a Censura, a apresentação foi novamente proibida. Tendo em vista que a produção já tinha realizada, os artistas resolveram levar a empreitada adiante e, ao término da encenação, muitos foram convocados a prestar depoimentos Polícia Federal.

Além deste episódio específico, é possível estabelecer um quadro de referência sobre a ação da Censura com relação à atividade teatral no Espírito Santo. Todo artista deveria ser cadastrado na Polícia Federal. Os textos dos espetáculos eram enviados para Brasília e, cerca de três meses depois, os grupos recebiam a resposta sobre a liberação total, parcial ou interdição do texto. Mesmo com a liberação, deveria ocorrer uma apresentação especial para os censores que acompanhavam se a equipe estava respeitando os trechos cortados.

Além disso, os censores poderiam aparecer nos espetáculos para verificarem se a peça correspondia ao que tinha sido apresentado no ensaio. Se os artistas insistissem em se apresentar, violando a determinação da Censura, eles deveriam pagar multas e, caso a infração se repetisse por três vezes, poderiam ser detidos.

Na terceira fase do teatro capixaba durante a ditadura, compreendida entre o final de 1977 e começo da década seguinte, observamos uma situação paradoxal. Por um lado, é perceptível o desenvolvimento do movimento teatral com o surgimento de novos grupos.

Esse avanço ocorreu através da conjunção de alguns fatores, como as ações desenvolvidas pela Fundação Cultural do Espírito Santo; a criação da Federação Capixaba de Teatro (FECATA) em 1976 e pelo movimento estudantil da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) ligado às Mostras de Teatro realizadas pela instituição entre os anos de 1976 e 1979.

Por outro lado, houve uma redução no repasse de verbas do Estado para a Fundação, perceptível na crise que se abateu sobre a instituição. Apesar de continuarem a existir algumas ações em prol da atividade teatral, como a criação de um Prêmio de Dramaturgia e de um Edital de Patrocínio de Montagens e a realização do III Encontro Capixaba de Teatro Amador, do II Seminário sobre o Teatro no Espírito Santo e o I Ciclo Capixaba de Teatro, essas foram em número menor do que no primeiro momento, assim como qualitativamente diferentes, com a FCES limitando-se a ser, na maior parte das vezes, uma apoiadora dos eventos mencionados, principalmente no papel de fornecedora do Teatro Carlos Gomes para a realização dessas ações. Essa crise culminaria na extinção da própria Fundação Cultural e comprometeu sensivelmente as ações que vinham sendo desenvolvidas em prol do teatro capixaba até então.

A partir da segunda metade da década de 1980 e ao longo dos anos 1990, o teatro de grupo capixaba sofreu um retraimento. Com algumas poucas exceções – como os Grupos Z, Tarahumaras, Rerigtiba e Gota, Pó e Poeira, criados na época e que ainda se mantêm em atividade – o período foi marcado, de maneira geral, por iniciativas individuais de diretores/produtores que contratavam elencos temporários para determinada montagem, em especial infantil. Essas produções, em sua maioria, eram patrocinadas por empresas privadas graças à Lei Rubem Braga, criada em 1991 na capital, uma das primeiras leis de incentivo fiscal a surgirem no país.

Em contrapartida, foi também na década de 1990 que foi criada aquela que é até hoje a única escola pública de formação teatral de todo o Estado. A então chamada Escola de Artes FAFI foi criada em 1992 e oferecia diversas oficinas artísticas, entre elas a de teatro. Em 1998, passou a se chamar Escola de Teatro e Dança FAFI, oferecendo cursos de qualificação profissional nessas duas áreas.

Equipe redatora de serviços de programação e de artigos sobre teatro.