Um pouco com receio da covid, outro tanto por falta de financiamento, sem contar com a constante concorrência de rostinhos bonitos ou corpos esculturais ou breves aparições em telenovelas (o que sempre atrai público), o fato é que atores e atrizes mais maduros e com inegável experiência no teatro ficaram em stand by por um bom tempo.
É fácil constatar esse fenômeno pelas ruas, botecos e restaurantes: apenas o pessoal de cabelo branco ainda usa máscara e se preserva do vírus, dando uma banana para as idas e voltas da flexibilização baixada pelas prefeituras deste nosso enorme rincão e das fake news propagadas pela internet. O bom senso prevaleceu para os artistas mais apreensivos, mas nem por isso menos inquietos.
Ou por coincidência ou pela imensa saudade da ribalta, estão todos de volta ao mesmo tempo em espetáculos dos mais variados. Otávio Augusto (77 anos), Marcos Caruso (70), Tonico Pereira (74), Eliane Giardini (69), Fernanda Montenegro (92), Renato Borghi (85), Renata Sorrah (75), Marieta Severo (75), Ângela Rebelo (70), Tadeu Aguiar (72), Ney Latorraca (78), Patricya Travassos (67), Sílvia Bandeira (72), Miguel Falabella (65), Léa Garcia (89), Emiliano Queiroz (86), Sueli Franco (82) e o mascote da turma, Júlio Adrião (62), resolveram encarar de frente um triunfal retorno aos palcos, depois de vacinados com quatro doses, evidentemente.
Somando tudo, dá a bagatela de 1.301 anos de talento e histórias de vida em carreiras que marcaram o teatro brasileiro nos últimos cinquenta ou sessenta anos em espetáculos inesquecíveis. Apenas Nathalia Timberg (93) declinou por enquanto, mas, com certeza, a teremos de volta em breve, esbanjando a competência que sempre foi sua marca registrada.
Passado o susto do auge da pandemia, o público poderá novamente se deleitar com comédias, dramas e musicais das mais variadas procedências protagonizados por expoentes que nunca saíram da memória das plateias e que continuam a produzir alegrias, reflexões, risadas e emoções numa autêntica abnegação figadal de amor a essa arte milenar que tanto contribuiu para a modernização das interpretações de personagens inolvidáveis.
Entre agosto e setembro, a genialidade de todos esses prodígios nos encantará com sua sagacidade, dom inato e agudeza de espírito. Portanto, não é exagero afirmar que teremos o velho e bom teatro de volta, com cacos ou sem cacos, e principalmente com a sabedoria de como construir e improvisar uma cena, por mais trivial que seja.
O lugar deles continuava reservado. Foi uma vigília assustadora que comprometeu em parte o bom desempenho das peças, mas que finalmente terminou. Resta saber se o aparato de financiadores continuará apostando no talento ou se voltará à mesmice de antes, pois a aptidão, lucidez e destreza são artifícios inerentes e jamais sairão de cena.

Furio Lonza é um escritor, dramaturgo e jornalista ítalo-brasileiro.