A peça Baixa Terapia, do dramaturgo argentino Matias Del Federico, vem envolta em inúmeros mistérios. O que teria motivado 350 mil espectadores a assistirem sua montagem (tanto em São Paulo, quanto em Portugal e EUA), que ficou em cartaz durante 3 anos e agora estreia no Rio de Janeiro? Como ela era no início da primeira temporada? O que foi modificado ao longo de seu processo? Houve alterações significativas na adaptação de Daniel Veronese?

 

Com direção de Marco Antônio Pâmio e elenco formado por Antônio Fagundes, Mara Carvalho, Alexandra Martins, Ilana Kaplan, Fábio Espósito e Bruno Fagundes, Baixa Terapia não emplaca. O que se vê no palco é uma quizumba mal orquestrada de clichês e chavões da famosa DR (discussão de relacionamento) a partir de três casais que se encontram (teoricamente) por acaso no consultório da terapeuta que está ausente, numa armação (aparentemente) consciente no intuito de que eles próprios resolvam seus problemas, que vão do ciúme, sexo, adultério, machismo e demais temas pertinentes ao casamento.

É sabido que o tempo de exposição de um texto produz inadvertidamente cacos que vão sendo adicionados pelos atores ao original com o objetivo de ver o que funciona e o que não funciona no palco. As extraordinárias atrizes Ilana Kaplan e Mara Carvalho, por exemplo, desvirtuam suas personagens ao ponto de virarem caricaturas de si mesmas, com cacoetes e exagerações de interpretação que poderiam ser evitadas através do bom senso ou talvez da discrição. O que acontece é exatamente o contrário: ou o timing de comédia se perdeu ou houve um desencontro de ações, gerando um descompasso evidente entre os eventuais propósitos iniciais e o resultado final da trama.

Muito se comentou sobre a atuação de Antônio Fagundes: disseram que está solto no palco como há muito não se via, o que é um exagero, ele também avança o sinal e compromete seu currículo. Chega a ser constrangedor vê-lo dando passinhos clownescos e estilizados que são imitados sem muita convicção por Mara Carvalho, que faz o que pode, mas não consegue salvar o espetáculo, que claudica desde os primeiros minutos.

O segredo que aparece ao final da peça com a finalidade explícita de dar um sentido dramático à trama não convence nem comove, pelo contrário, deixa um sabor amargo no espectador, que afinal entende que foi ludibriado durante 80 minutos com uma farsa que pretende tocar num tema candente e atual, mas que se perde ao longo da sucessão avassaladora de lugares-comuns.

Não é difícil dizer o que deu realmente errado em Baixa Terapia. A direção de Pâmio hesita e não consegue manter o ritmo, abrindo vácuos enormes entre uma cena e outra ou mesmo quando todos resolvem falar ao mesmo tempo; os atores se dividem em dois grupos: uns são francamente ruins e o outro precipita-se em agradar a plateia a qualquer custo com improvisações forçadas.

A verdade é que não há interação. Faltou equilíbrio, ponderação e critério, não houve prudência e sensatez no conjunto e, finalmente (o mais cruel de tudo), a reflexão não deu as caras, os problemas são arremessados aleatoriamente sem um método consciente e não são verticalizados como deveriam. Mesmo partindo da ideia de que é uma comédia ligeira sem maiores pretensões de análise das situações, seria salutar uma argumentação mais sólida para cada tema.

Furio Lonza é um escritor, dramaturgo e jornalista ítalo-brasileiro.