Teatro das Oprimidas surge em virtude da necessidade de desenvolver produções teatrais nas quais as mulheres não sejam culpabilizadas pelas violências machistas que enfrentam, e de ampliar a participação de artistas-ativistas como facilitadoras desses processos de produção e do diálogo com o público.

Além de aprofundar a perspectiva subjetiva do problema para explicitar a complexidade das personagens, esta análise prioriza a inclusão da estrutura social na encenação, a fim de revelar os mecanismos de opressão que sustentam o sistema patriarcal.

Se a experiência de Augusto Boal representou uma revolução na forma de conceber e implementar o fazer teatral ainda na década de 60, o Teatro das Oprimidas constitui a revolução dentro da revolução, uma metodologia que surgiu de dentro de outra metodologia com o objetivo de aprofundá-la, ampliá-la e questioná-la.

No Teatro das Oprimidas, não se questiona apenas o caráter singular e masculino “do Oprimido”, busca-se a superação da abordagem individualista na representação cênica por meio da problematização do contexto social que limita (e muitas vezes impede) as escolhas pessoais das oprimidas.

Nesse sentido, como processo estético e político, relativiza a importância dos comportamentos individuais na encenação, a fim de jogar luz nas variáveis que interferem na situação, independente das decisões particulares da protagonista. Esta metodologia de trabalho procura desenvolver a perspectiva artística e a abordagem estrutural em produções teatrais por meio de estéticas feministas.

O livro apresenta a história do surgimento e da expansão da Rede Ma(g)dalena Internacional, de artistas-ativistas da América Latina, Europa, África e Ásia. A rede foi e segue sendo impulsionada pelo desenvolvimento do Teatro das Oprimidas, metodologia teatral de perspectiva feminista. As protagonistas dessa obra são ativistas que, como praticantes e integrantes do movimento internacional de Teatro do Oprimido, a partir de seus lugares de existência e de resistência, decidiram implementar estratégias antipatriarcais na práxis do método. O livro traz um vasto arsenal de exercícios, jogos e técnicas inovadoras, que podem ser usados como exemplos práticos de aplicação da metodologia e de atuação articulada em rede. Bárbara Santos analisa os problemas enfrentados e os avanços políticos e metodológicos de uma década de atuação, destacando as questões que seguem desafiando o Teatro das Oprimidas, uma experiência estética que visa a investigação e a superação das opressões enfrentadas pelas mulheres.

A autora

Bárbara Santos tem 29 anos de experiência ininterrupta com o Teatro do Oprimido em mais de 40 países.  É uma das idealizadoras e principal difusora do Teatro das Oprimidas. A autora é fundadora da Rede Ma(g)dalena Internacional, composta por grupos feministas da América Latina, Europa, África e Ásia. No Brasil, atua como consultora do Centro de Teatro do Oprimido, editora da revista METAXIS e como diretora artística do grupo Cor do Brasil e do Coletivo Madalena-Anastácia.  É autora de “Teatro do Oprimido, Raízes e Asas: uma teoria da práxis”, lançado em português, 2016, em espanhol, 2017, em italiano, 2018 e em inglês, 2019. O segundo livro da autora “Percursos Estéticos: abordagens originais sobre o Teatro do Oprimido” foi lançado em português, 2018. Bárbara Santos vive na Alemanha desde 2009, onde é diretora artística de KURINGA – espaço para o Teatro do Oprimido em Berlim e do grupo Madalena-Berlim. Idealizadora e coordenadora do Programa KURINGA de Qualificação em Teatro do Oprimido, que teve avaliação externa da Universidade de Bolonha, integra a ITI Alemanha (International Theatre Institute of UNESCO). Como autora e diretora, tem se destacado por produções artísticas que abordam temas contextuais (capitalismo, racismo, machismo, migração, etc.) e pela pesquisa de formatos coletivos para a intervenção da plateia no Teatro Fórum. Como atriz, fez Filomena, no filme “A Vida Invisível de Eurídice Gusmão”, de Karim Aïnouz, ganhador do Grand Prix, melhor filme, da mostra Un Certain Regard, do Festival de Cannes, de 2019. Como performer, em Travessia, investiga a conversão do corpo cênico em corpo político.

 

Teatro das Oprimidas: Estéticas Feministas para Poéticas Políticas,  de Bárbara Santos, Editora Casa Philos, 2019, 406 páginas.