Até que ponto um crítico de teatro consegue ser completamente isento na avaliação de um espetáculo? É possível usar o cérebro de maneira imparcial? Isso lhe dá um salvo-conduto para ter credibilidade? Deixar a emoção na chapelaria seria um método apropriado para se fazer justiça? Evitar a adjetivação é um artifício válido para se chegar a uma fórmula mais condizente com a neutralidade? Em que consiste a crítica construtiva? Ela deveria analisar mais o processo do que o resultado de uma obra montada? O decurso entre a ideia inicial e o produto final é mais importante no sentido de analisar o contexto com um todo? Como saber o que ocorreu nesse ínterim? Será realmente essa a função do crítico? Deixar momentaneamente de lado os parâmetros de qualidade adquiridos ao longo da vida profissional poderá desempenhar um papel fundamental para se chegar a uma espécie de independência desapaixonada? A comoção do crítico pode obnubilar seu bom senso? Sua idiossincrasia pode virar cacoete de estilo e interferir na análise? É preferível um crítico rígido ou um flexível? O pragmatismo pode virar indulgência? Com o objetivo de chamar o público, é mais adequado salientar os aspectos positivos de uma obra e minimizar os negativos? Um crítico rigoroso pode se transformar num cri cri que só enxerga defeitos?
Ainda existem críticos? Alguém dá bola para suas opiniões? As plateias são regidas por suas considerações e pontos de vista? Suas crenças e convicções podem alavancar uma obra de teatro ou servem apenas desestimular os atores e diretores depois de um périplo extenuante de construir um espetáculo?
Em quais circunstâncias o conluio entre o artista e o crítico poderia ser considerado como uma parceria? O que o crítico deve fazer para contribuir positivamente na adequação entre o que pensa e o que a obra representa na realidade? Entre a teoria e a prática existe uma confluência, uma espécie de lugar-comum, como nos conjuntos da Matemática, onde os elementos se agrupam de acordo com suas características, representados no famoso diagrama de Euler-Venn?
As ideias de pertencimento e inclusão devem fazer parte do método de avaliação de uma obra teatral? O que deve ser focado e salientado e o que pode ser negligenciado, sem que isso comprometa a isenção de uma análise crítica?
Afinal, onde se formam os críticos? Nas faculdades, nos cursos ou nas quebradas do mundaréu [como dizia Plínio Marcos]? A partir de que momento, alguém pode se considerar um crítico de teatro? Serão [como diz o vulgo] artistas frustrados que enveredam pelo caminho fácil de avaliar somente os trabalhos dos outros depois de amargarem frustrações em suas próprias carreiras?
Imaginar um mundo ideal onde todos contribuem na edificação de um produto coletivo será uma ilusão, uma utopia para além de nossas forças como artistas e seres humanos?

Furio Lonza é um escritor, dramaturgo e jornalista ítalo-brasileiro.