Uma ceia com (no máximo) seis pessoas, todas da família. Em virtude da crise econômica, o cardápio será frugal: um franguinho assado no lugar do chester e cidra Cereser substituindo o tradicional champanhe (prosecco, nem pensar). Embaixo da árvore, caixas de presentes com pares de meias e sandálias havaianas.

E um réveillon sem fogos. Afinal, comemorar o que, não é mesmo?

Um ano difícil o de 2020. Pandemia rolando solta numa hipotética segunda onda; militares genocidas espalhados por todas as instâncias do governo; investigações criminais envolvendo senadores, vereadores, deputados golpistas; fake news nas redes sociais; escritório do ódio; falcatruas generalizadas; superfaturamento de respiradores; impeachment de governadores e prefeitos; caixa 2; rachadinhas e assassinatos de candidatos; milícia tomando conta de ¾ do Rio de Janeiro; vacinas ideologizadas por terraplanistas desvairados.

Com as salas de espetáculo fechadas há oito meses, o teatro (como na letra daquele famoso samba) agonizou, mas não morreu.

Apesar de tudo isso, o site Teatro Hoje se manteve ativo e acompanhou todas as lives e eventos que rolaram desde então, dando em tempo real informações pertinentes aos aficionados saudosos do entretenimento desta nobre arte que varou os séculos e não se intimidou nem durante as catástrofes que assolaram os países e o planeta como um todo.

Mas houve um lado positivo nessa parada: as pessoas que frequentam nosso site podem ver espetáculos de todo o Brasil e não só do Rio. Os Satyros e o Grupo Tapa, ambos de São Paulo, estão com muitas peças em cartaz nas plataformas de streaming, o Galpão, de Minas, além do acesso à programação Em Casa com Sesc, do Sesc São Paulo, que transmite espetáculos de teatro quatro vezes por semana e de dança duas vezes por semana.

Ou seja: Teatro Hoje deixou de ser regional, federalizou-se.

Dramaturgos, diretores, atores e técnicos se mantiveram atentos, tentando a duas penas brigar por subsídios que pudessem minimizar a escassez de recursos. A Lei Aldir Blanc foi conseguida e sancionada a fórceps, mas os resultados (por conta de pegadinhas federais) ainda são um enigma a ser destrinchado por advogados que lutam para reverter esse imbróglio.

O que esperar de 2021? Conseguirão os futuros prefeitos das maiores cidades do país restabelecer o esquema de editais que, mesmo com falhas, fraudes e alguns jurados suspeitos, tinham objetivos claros de financiar obras de arte?

Será possível refrear alguns grandes produtores que, antes da pandemia, abriam várias empresas e inventavam rubricas falsas para se apropriarem de mais de 60% dos investimentos, distribuindo migalhas para os artistas? Muitos já estão sendo acionados juridicamente pelo ministério público e seus bens foram bloqueados, mas ainda é pouco.

Em virtude dos maus exemplos provenientes dos altos escalões, o que há é uma crise de princípios e valores, que se espalhou por boa parte da sociedade.

Será utopia imaginar que os investidores possam repensar onde e como inocular suas aplicações levando em conta única e exclusivamente a qualidade dos espetáculos e não apenas para descontarem no imposto de renda?

Estarão as grandes corporações aptas a visualizar um mundo novo e uma maneira diferente de gerenciar seus lucros sem que a arte e as pessoas sejam penalizadas por isso? Não vamos falar dos bancos, pois estes são um caso perdido.

A única esperança de o teatro voltar sem riscos está na vacina, tendo em vista que algumas iniciativas de montar espetáculos com a presença de público naufragaram, mesmo seguindo os protocolos de distanciamento e demais regras.

Então, um feliz Natal a todos, apesar de tudo.

Equipe redatora de serviços de programação e de artigos sobre teatro.