Mão dupla. | Imagem: Autor Desconhecido

Palco e plateia, centro e periferia: são vias de mão dupla. Talvez a primeira pergunta que um dramaturgo tenha que se fazer ao compor um texto é a seguinte: estou sendo útil? 

Enquanto uma companhia de teatro intui o que o público deseja ver e ouvir, a plateia espera ansiosa em ser contemplada no palco com a diversidade de seu cotidiano para que consiga se identificar. 

Na mesma medida em que a capital do Rio de Janeiro solidifica seus espectadores nas camadas A e B apresentando grandes e suntuosos musicais com o consequente ingresso nas alturas, a periferia luta para ser ouvida, pois tem muito a dizer e contribuir com a arte em geral, uma vez que é ali que residem os personagens mais complexos, frutos de uma diversidade de meios.

Essa via de mão dupla se completa da seguinte maneira: levar as peças da capital para a periferia tem o mesmo risco de trazer para os centros comerciais cênicos um projeto produzido com temas locais, pois as abordagens provavelmente serão diferentes. Pode dar certo. Pode não dar.

É uma ingenuidade achar que existe um novo público em Guaratiba, Nova Iguaçu, Angra dos Reis, Queimados ou na Baixada Fluminense. Ele sempre esteve lá. Apenas não recebe periodicamente o que merece (ou aguarda).

Por outro lado, também seria ingenuidade achar que esse público que não desgruda da TV seja imune ao apelo da presença em cena de celebridades, como ainda acontece na Zona Sul ou em qualquer outro lugar. Mas há uma diferença fundamental: a demanda reprimida da periferia admite a possibilidade de que esse público se interesse por um teatro bem feito simplesmente por ser uma das poucas atividades culturais que ele tem.

Teatro Hoje tem buscado estabelecer diálogos com setores produtivos das comunidades cênicas. Em dezembro de 2021 organizou uma entrega simbólica dos certificados Citação Teatro Hoje 2021, assim como realizou o projeto Teatro Hoje no ES, com textos sobre a cena capixaba, também iniciando a cobertura da programação no Espírito Santo. Em janeiro realizou o I Forum TH, com as pautas Teatro no Espírito Santo e Investigações Cênicas. Em nossos espaços de conteúdo podem ser encontradas matérias sobre cada um dos programas.

Queremos ouvir o que a periferia tem a dizer através de um novo fórum, a ser realizado em 5 de abril. A experiência do ator João Velho trabalhando o clássico de Gianfrancesco Guarnieri “Eles não usam Black-tie” junto ao pessoal de Nós do Morro, o trabalho realizado por Joelson Gusson na programação de espaços cênicos no Rio de Janeiro e seu trabalho em Colatina (ES) e as atividades incansáveis de Leandro Santana com o grupo Queimados em Cena certamente vão trazer outras questões a serem avaliadas e recicladas de acordo com novos pontos de vista.

É por isso que o II Forum TH convidou estes três artistas para falarem sobre seus trabalhos e sobre as pautas Cenas Periféricas e Programações Cênicas, inaugurando uma nova área do portal: o Forum TH, com os registros videográficos das reuniões. Esperamos que esse possa se tornar um movimento cada vez mais participativo.