Em maio de 2019, depois de muitas discussões, debates, sugestões cruzadas e adiamentos, Cenira Vanacor Barroso, Lysis Valle Barroso, Peter Boos, Maria Alice Silvério e Furio Lonza resolveram, com outros amigos da área, fazer um site sobre teatro, que nasceu sob um lema heroico & messiânico: haja o que houver, de agora em diante, todos os artistas terão um lugar disponível para divulgar suas peças, com ficha técnica, sinopses, fotos, local e horário de exibição. Todos serão tratados com respeito e transparência, pois terão o mesmo espaço democrático: companhias, atores, atrizes, diretores e demais envolvidos em projetos artísticos.

Era uma carta de princípios que iríamos honrar até a morte.

Aqui, cabe uma explicação necessária: com a falência do JB e a retirada dos tijolinhos do Globo na sexta-feira, as produções e os espectadores tinham ficado sem pai nem mãe. Ninguém mais sabia onde procurar com certeza a qual teatro ir para assistir as peças no fim de semana. Houve uma gritaria geral. Precisavam de uma bússola cultural. Urgia tomar uma atitude. Tomamos.

Depois de resolvidos alguns problemas técnicos, juntamos uma galera azeitada de colaboradores e consultores e montamos a Redação TH. O site teria um pouco de tudo: matérias especiais, entrevistas, perfis de dramaturgos clássicos e um carrossel de peças em cartaz, com fotos coloridas e todas as informações necessárias para que o público sedento pudesse escolher qual lhe agradava mais.

Teatro Hoje estreou em julho daquele mesmo ano. Não tínhamos dúvida alguma do sucesso, pois era o único site que abrangia o universo inteiro da programação carioca. Maria Alice ficou com a incumbência de alimentar o carrossel de peças, Peter Boos na direção geral e alimentação, junto com Furio Lonza como editor na Editoria Teatro Hoje, acumulando também a função de crítico, e ficando a editoração e a produção a cargo da Beepecriaoc Arte.

Um conselho consultivo de primeira: Emílio de Mello, Margareth Galvão, Miguel Vellinho e Xando Graça, que dariam palpites e sugestões quanto ao teor das publicações.

Ao longo do processo, Alessandra Vannucci fez o perfil de Goldoni, Adriana Maia os de Shakespeare e Matéi Visniec, Avelino Alves o de Tennessee Williams e Furio ficou com a responsabilidade de esmiuçar as carreiras dramatúrgicas de Plínio Marcos, Tom Stoppard e Ibsen. Leonardo Netto escreveu um artigo maravilhoso sobre as peças clássicas com tema gay e Alessandro Brandão falou sobre a transgeneralidade no teatro. Alina Lira colaborou em um artigo sobre a Lei de Incentivo à Cultura. A seção Estante avaliou livros sobre a área. O leitor teve acesso a um site que falava tudo sobre teatro, levantava polêmicas, criticava, elogiava, com muitas notícias, entrevistas com diretores, atores e tudo que um aficionado tinha direito, além da demanda reprimida de informações sobre as peças.

Mesmo assim, fomos precavidos em relação ao retorno, pois um projeto desses leva tempo para vingar. O Google Analytics indicava no início da pandemia, em 2020, por volta de 4.500 acessos mensais, no que a interrupção da programação teatral por conta da pandemia da Covid-19 levou a quase 0, e, hoje, após passarmos a cobrir também as lives de teatro, chegando a uma média de 70 visitações diárias.

Enquanto a revista cresceu e passou a cobrir mais aspectos do estudo das artes cênicas, se tornando a única publicação do país a trazer toda a programação teatral de uma cidade, a participação da comunidade artística na publicação, mesmo com as brilhantes contribuições conquistadas, ficou limitada, pois foi difícil garantir o pagamento a mais colaboradores textuais. A pergunta que ocorreu foi a seguinte: como alcançar os parceiros que tenham interesse em aproveitar os espaços visitados para veicular anúncios de seus produtos e serviços enquanto facilitam o encontro de artistas e público, que vociferavam aos quatro ventos pela falta de espaços para a repercussão das informações e ganharam tal espaço, mas, dado o tom da política nacional nos últimos anos, correm o sério risco de perder?

Em março de 2020, aconteceu o que nem Nostradamus tinha previsto: veio a pandemia, o distanciamento, a incerteza, as precauções, a higiene, a falta de vacinas e por consequência o fechamento das salas de espetáculo. Mas nem isso arrefeceu nosso ímpeto. Teatro Hoje reciclou-se juntamente com os atores, trazendo as lives e as peças online, abrindo uma nova frente anfíbia entre o teatro e o vídeo.

Repercutimos na seção Notícias as principais resoluções governamentais envolvendo a Lei Aldir Blanc e participamos do edital Cultura Digital, da Secretaria de Estado da Cultura do Espírito Santo (SECULT-ES), da citada lei de 2020, em auxílio emergencial aos trabalhadores da cultura com o projeto Teatro Hoje no ES. A documentação de contratação para a execução do projeto foi assinada mas os recursos ainda não foram liberados.

Nem tudo foi bom, nem tudo foi ruim.

Foram dois anos de trabalho intenso e ininterrupto, mas o aporte financeiro não deu as caras. Seguramos a barra enquanto foi possível sem esmorecer. Tudo o que estava na nossa carta de princípios, de uma forma ou outra, foi cumprido. Mesmo baqueados, não sucumbimos, fomos tocando o barco, sempre remando contra a maré cada vez mais revolta, cada vez mais obscura.

Mas tudo tem um limite. Em virtude da situação bizarra em que se encontram as artes em geral no país, Teatro Hoje fará alguns ajustes editoriais para lidar com o momento. Apesar de já contar com um mapa de seções esmerosamente preparado no final de 2019, aos poucos sendo aberto na revista e a ser divulgado em seu completo espectro no momento mais propício, pois linha guia de todo o trabalho que ainda virá. A publicação colocará em stand by a cobertura de resenhas da programação, que requer um grande esforço da equipe para chegar ao ar. A paralisação durará o tempo que for necessário, provavelmente para voltar com ainda mais força, como fazem os tigres quando recuam alguns passos com o objetivo de dar o bote certeiro em sua presa.

Os editoriais passarão a partir de agora a não serem mais escritos mensalmente, e sim quando a editoria achar relevante que haja um posicionamento institucional.

Nada foi em vão. Aprendemos muito, apanhamos. Nos últimos meses fomos quatro vezes alvo de ataques cibernéticos que levaram nossa publicação a ficar fora do ar por vários dias. Tivemos que enfrentar mais uma vez os percalços da barreira digital. Caímos, nos levantamos e (como naquele samba) sacudimos a poeira e demos a volta por cima. Num dos momentos mais tensos e delicados, até consultamos uma vidente para ver se era possível fazer alguma coisa com sal grosso, mas ela foi enfática: para que um projeto desse porte se torne autossustentável, os anúncios são imprescindíveis. Quem somos nós para duvidar de quem entende do aspecto financeiro de uma instituição, não é mesmo?

Agradecemos a todos os colaboradores e leitores cariocas pela atenção e carinho dispensados. Mas para continuarmos precisamos avançar com mais participação da comunidade. Os artigos e matérias publicados em Teatro Hoje continuarão no ar, mas para garantir a continuidade da produção de conteúdo e a ampliação da redação, com mais detalhes do cotidiano de quem faz arte pelas salas de espetáculos do Brasil, precisamos de colaboradores comerciais. Dispomos nossos espaços para anunciantes e convidamos representantes comerciais interessados em colaborar na prospecção de parceiros e clientes. Botões para doação de recursos para a manutenção de nossos serviços também serão disponibilizados nos próximos dias para facilitar a contribuição de leitores incentivadores.

Após 2 anos desde nossa estreia, pudemos mostrar à comunidade teatral carioca como lemos e o que buscamos destacar nas abordagens cênicas da cidade. Sabemos que muito trabalho ainda está por vir. Com o sinal verde da SECULT-ES poderemos voltar a divulgar a programação em tempo real e contaremos com uma incorporação inédita: um departamento comercial de peso e o Espírito Santo incluído em nossa programação, com peças, espetáculos, depoimentos e entrevistas de atores e atrizes e tudo o que de mais interessante acontece nesse estado vizinho. Será o próximo passo, com a certeza de que outros virão, como a I Conferência Internacional de Tecnologia Beepe T.I., do setor de tecnologia da Beepecriaoc Arte, para garantir a solidificação das bases digitais dos projetos da empresa e o aumento da segurança no tratamento dos dados.

Assim que possível divulgaremos informações sobre a entrega dos certificados Citação Teatro Hoje 2021 e sobre a abertura do Forum Teatro Hoje, nosso espaço de debate com a comunidade teatral, com a promoção de uma agenda de reuniões virtuais de aconselhamento e diálogo com profissionais do setor.