2017

Tudo começou dois anos atrás. Roberto Alvim descobre um tumor no intestino e entra em pânico. Considera-se condenado à morte.

A babá evangélica de seu filho coloca a mão na sua cabeça e faz uma oração. Alvim sente a energia e vislumbra a luz.

No dia seguinte, vai ao hospital e os exames revelam o milagre: o tumor tinha desaparecido.

Converte-se ao catolicismo, frequenta duas missas diárias, tem uma série de iluminações e epifanias e mergulha de cabeça nos escritos de Olavo de Carvalho.

Setembro, 2018

Roberto Alvim declara seu apoio a Jair Bolsonaro, que considera um santo, um mártir que irá salvar o Brasil.

Outubro, 2018

Recebe críticas da classe teatral por essa opção. Perde amigos. Ninguém atende mais seus telefonemas. Chico Buarque retira os direitos autorais de sua peça Leite Derramado, um de seus sucessos recentes.

7 de junho, 2019

Roberto Alvim recebe um jornalista da Gazeta do Povo, do Paraná, e diz que está sendo perseguido pela esquerda. Em virtude do boicote, está fechando sua sede em São Paulo, o Club Noir, por absoluta falta de alunos em suas oficinas teatrais.

8 e 9 de junho, 2019

Dispara uma série de posts no facebook contando sua história e pedindo solidariedade.

10 de junho, 2019

Recebe o apoio incondicional de Regina Duarte e Carlos Vereza pelo facebook.

13 de junho, 2019

No meio de uma missa, o celular toca: é o presidente Jair Bolsonaro, que se solidariza com ele, agradece o apoio e marca uma reunião em Brasília. Falam por dez minutos.

16 de junho, 2019

Dá uma entrevista à revista Veja. O repórter pergunta como ele se sente apoiando um presidente homofóbico e admirador confesso do torturador Brilhante Ustra. Alvim diz que concorda com tudo, exaltando a coragem de Jair em fazer essas declarações publicamente.

17 de junho, 2019

Roberto Alvim encontra-se com Bolsonaro no Palácio do Planalto, em Brasília, acompanhado pelo Ministro da Cidadania, Osmar Terra.

18 de junho, 2019

O Globo on line publica uma matéria sobre Roberto Alvim convocando “artistas conservadores”, com o objetivo de criar uma “máquina de guerra cultural” e pede seus currículos para a criação de um banco de dados, que serão aproveitados em futuros projetos, reportando o que ele já tinha postado nas redes sociais dois dias antes.

A classe teatral e diversas entidades protestam, alegando que o diretor seria a mais nova encarnação do MacCarthismo ao ideologizar a arte, ferindo inclusive o Art. 215 da Constituição Federal, que estabelece o pleno exercício dos direitos culturais e do acesso às fontes da cultura nacional.

Recebe uma promessa do governo: ganhar um cargo na Secretaria Especial de Cultura.

Furio Lonza é um escritor, dramaturgo e jornalista ítalo-brasileiro.