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Arquivos Intercept - Teatro Hoje https://teatrohoje.com.br/secao/intercept/ Revista digital de Artes Cênicas Mon, 13 Jun 2022 12:02:53 +0000 pt-BR hourly 1 O stand up formou um público de gargalhadores https://teatrohoje.com.br/2022/01/08/o-stand-up-formou-um-publico-de-gargalhadores/ Sat, 08 Jan 2022 16:37:35 +0000 https://teatrohoje.com.br/?p=100748 O stand up veio pra ficar. Já está institucionalizado. Há casas de espetáculo especificamente construídas ou adaptadas para esse tipo de entretenimento e não adianta espernear. Se é ou não teatro, isso agora pouco importa. Há quem ame, há quem odeie, mas ninguém fica indiferente. Tem gente que se esborracha de rir só com a entrada em cena do performer. Os que ainda estão reticentes darão a mão à palmatória diante de um fato consumado. Gênero que surgiu nos EUA por volta de 1960 e solidificou-se na década de 70, o stand up é um monólogo geralmente escrito pelo próprio artista onde ele elege como tema central seu próprio cotidiano, sua vida particular, familiares e amigos, mas pode discorrer também sobre fatos da política ou escândalos recentes de celebridades. Ou seja: não há personagem, ele interpreta a si mesmo. Woody Allen começou assim, Lenny Bruce, Bill Cosby, e Seinfeld ficou milionário à frente apenas de um microfone, algumas ideias e muitas piadas. O fundo normalmente não demanda maiores cenografias: um falso muro de tijolos aparentes é o suficiente. O que vale é um roteiro básico e improvisações em cima de cacos provenientes do público. No começo, geralmente esses comediantes serviam para esquentar a plateia antes de algum show, caso de Bob Hope, Jack Benny, Fred Allen, George Carlin e George Burns. Ao longo da década de 70, surgiram teatros especializados no gênero one man show, onde os comediantes dissertavam sobre a infância ou o que lhes tinha acontecido durante a semana. Todos se lembram da famosa frase que quase sempre surgia no início desses espetáculos: “Hoje, quando estavam vindo para cá, me aconteceu um fato curioso”. No Brasil, esse formato chegou em meados dos anos 2000, quando Marcela Leal, Rafinha Bastos e Marcelo Mansfield estrearam o espetáculo Mondo Cane. Em seguida, Cláudio Torres Gonzaga, no Rio de Janeiro, convidou os três, em datas diferentes, para se apresentarem no Comédia em Pé, de onde surgiu o Clube da Comédia Stand up em São Paulo. É bom salientar que esses artistas não foram os precursores deste gênero de comédia: Chico Anysio tinha seu stand up no Fantástico e Jô Soares fez uma série de shows no formato que lotaram o Teatro de Cultura Artística. Se é para falar em pioneiros, devemos lembrar que José Vasconcelos fazia stand up ainda em 1959. Ele ficava sozinho no palco por uma hora e meia em frente a um microfone como qualquer estreante hoje em dia faz em seus open mics (microfone aberto) e seguia um script de sua autoria, com algumas improvisações. No fosso, havia uma orquestra com 30 figurantes que sublinhava os instantes da comédia. O público que acompanhou a programação da TV Record dos anos 60, de tempos em tempos, tinha uma surpresa agradável e insólita: o humorista português Raul Solnado, que vinha ao Brasil para seu stand up anual. De qualquer maneira, as características que fizeram a geração dos anos 2000 serem considerados os precursores do gênero vem do fato que esses comediantes não seguiam ao pé da letra o que mandava o figurino da comédia em pé, que antes usavam efeitos de luz, personagens, ternos e smokings. Por isso, esses grupos, como o Clube da Comédia, o Comédia em Pé e outros que surgiram depois, são chamados de “Pioneiros do stand up”, pois seguiram um padrão de estar em cena: sem maquiagem, sem figurinos, sem efeitos de som e luz e principalmente sendo autores de seus próprios textos. Hoje, há uma explosão de locais para comédia, espaços para artistas locais e até para comediantes em turnê por várias cidades, tanto nos EUA quanto no Brasil. Essas novas casas de espetáculo se proliferaram como coelhos no cio em São Paulo, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Fortaleza, Curitiba, Porto Alegre. Os artistas atendem pelos nomes de Fábio Porchat, Rafael Portugal, Danilo Gentili, Diogo Portugal, Afonso Padilha, Emerson Ceará, Bruna Louise, Rafael Aragão, Thiago Ventura, Patrick Maia, Nando Viana, Nil Agra e Rodrigues Marques, entre outros. Os títulos variam: O que pode dar errado na cama?, A culpa é do Cabral, Você não é todo mundo, Cê tem amor pra eu?, Não me cobre coerência, No gogó do Paulinho, O stand up é bravo. Atualmente, existem no Rio de Janeiro inúmeras casas de stand up no estilo americano: Clube Manouche, Teatro Cândido Mendes, Casa da Comédia Carioca, Rio Retrô Comedy, dentre tantas que irão surgir nas próximas semanas. O Espírito Santo não ficou para trás: o Vix Comedy Club tem uma programação especial de stand ups: Gui Preto Em Fase de Teste, Lucas Mendes em Socialmente Confuso, Jhordan Matheus em Textani e Ítalo Sena em Mostrando meu trabalho. Como em qualquer modalidade artística, o que deveria prevalecer para diferenciar um espetáculo de outro seria a qualidade, mas, no caso do stand up, isso parece não ter a menor importância, pois as plateias saem de casa predispostas a rir e levam a cabo essa premissa haja o que houver. Faça chuva ou faça sol, o público está lá para isso, paga uma grana legal e não está disposto a desperdiçar a oportunidade. Como não poderia deixar de ser, esse novo formato está influenciando a atitude do público no sentido de formar gargalhadores ensandecidos que já não conseguem acompanhar uma trama de teatro convencional, pois riem de tudo, até das cenas mais dramáticas. Garimpam motes aleatórios aqui & ali como se estivessem no sofá de suas casas assistindo a um pastelão qualquer. Pode ser Tennessee Williams, Eugene O`Neill ou até Shakespeare: na primeira vacilada, pimba, desatam a rir e não param mais. Eu sei que questionar uma tendência popular institucionalizada resvala invariavelmente no elitismo, mas que se há de fazer? Ninguém é perfeito. Não me consta que os stand ups americanos ou ingleses tenham tirado público do teatro tradicional, pois os shows da Broadway continuaram a todo vapor e as representações de textos clássicos ou experimentais em Nova York ou Londres não sofreram qualquer tipo de descontinuidade, pois havia (e há) público para tudo, mas no Brasil o buraco é sempre mais embaixo. A preferência por esse formato é inequívoca, o público lota as salas de espetáculo como nunca se viu em relação ao teatro convencional, pois (entre outros casuísmos) o fenômeno é alimentado pelo trânsito midiático desses artistas na TV, que lhes dá maior projeção. Enfim, é o que temos para o momento. Se devemos ou não fazer uma reflexão, fica a cargo de cada um.    

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O stand up veio pra ficar. Já está institucionalizado. Há casas de espetáculo especificamente construídas ou adaptadas para esse tipo de entretenimento e não adianta espernear. Se é ou não teatro, isso agora pouco importa. Há quem ame, há quem odeie, mas ninguém fica indiferente. Tem gente que se esborracha de rir só com a entrada em cena do performer. Os que ainda estão reticentes darão a mão à palmatória diante de um fato consumado.

Gênero que surgiu nos EUA por volta de 1960 e solidificou-se na década de 70, o stand up é um monólogo geralmente escrito pelo próprio artista onde ele elege como tema central seu próprio cotidiano, sua vida particular, familiares e amigos, mas pode discorrer também sobre fatos da política ou escândalos recentes de celebridades. Ou seja: não há personagem, ele interpreta a si mesmo.

Woody Allen começou assim, Lenny Bruce, Bill Cosby, e Seinfeld ficou milionário à frente apenas de um microfone, algumas ideias e muitas piadas. O fundo normalmente não demanda maiores cenografias: um falso muro de tijolos aparentes é o suficiente. O que vale é um roteiro básico e improvisações em cima de cacos provenientes do público.

No começo, geralmente esses comediantes serviam para esquentar a plateia antes de algum show, caso de Bob Hope, Jack Benny, Fred Allen, George Carlin e George Burns.

Ao longo da década de 70, surgiram teatros especializados no gênero one man show, onde os comediantes dissertavam sobre a infância ou o que lhes tinha acontecido durante a semana. Todos se lembram da famosa frase que quase sempre surgia no início desses espetáculos: “Hoje, quando estavam vindo para cá, me aconteceu um fato curioso”.

No Brasil, esse formato chegou em meados dos anos 2000, quando Marcela Leal, Rafinha Bastos e Marcelo Mansfield estrearam o espetáculo Mondo Cane. Em seguida, Cláudio Torres Gonzaga, no Rio de Janeiro, convidou os três, em datas diferentes, para se apresentarem no Comédia em Pé, de onde surgiu o Clube da Comédia Stand up em São Paulo.

É bom salientar que esses artistas não foram os precursores deste gênero de comédia: Chico Anysio tinha seu stand up no Fantástico e Jô Soares fez uma série de shows no formato que lotaram o Teatro de Cultura Artística.

Se é para falar em pioneiros, devemos lembrar que José Vasconcelos fazia stand up ainda em 1959. Ele ficava sozinho no palco por uma hora e meia em frente a um microfone como qualquer estreante hoje em dia faz em seus open mics (microfone aberto) e seguia um script de sua autoria, com algumas improvisações. No fosso, havia uma orquestra com 30 figurantes que sublinhava os instantes da comédia. O público que acompanhou a programação da TV Record dos anos 60, de tempos em tempos, tinha uma surpresa agradável e insólita: o humorista português Raul Solnado, que vinha ao Brasil para seu stand up anual.

De qualquer maneira, as características que fizeram a geração dos anos 2000 serem considerados os precursores do gênero vem do fato que esses comediantes não seguiam ao pé da letra o que mandava o figurino da comédia em pé, que antes usavam efeitos de luz, personagens, ternos e smokings.

Por isso, esses grupos, como o Clube da Comédia, o Comédia em Pé e outros que surgiram depois, são chamados de “Pioneiros do stand up”, pois seguiram um padrão de estar em cena: sem maquiagem, sem figurinos, sem efeitos de som e luz e principalmente sendo autores de seus próprios textos.

Hoje, há uma explosão de locais para comédia, espaços para artistas locais e até para comediantes em turnê por várias cidades, tanto nos EUA quanto no Brasil. Essas novas casas de espetáculo se proliferaram como coelhos no cio em São Paulo, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Fortaleza, Curitiba, Porto Alegre. Os artistas atendem pelos nomes de Fábio Porchat, Rafael Portugal, Danilo Gentili, Diogo Portugal, Afonso Padilha, Emerson Ceará, Bruna Louise, Rafael Aragão, Thiago Ventura, Patrick Maia, Nando Viana, Nil Agra e Rodrigues Marques, entre outros.

Os títulos variam: O que pode dar errado na cama?, A culpa é do Cabral, Você não é todo mundo, Cê tem amor pra eu?, Não me cobre coerência, No gogó do Paulinho, O stand up é bravo.

Atualmente, existem no Rio de Janeiro inúmeras casas de stand up no estilo americano: Clube Manouche, Teatro Cândido Mendes, Casa da Comédia Carioca, Rio Retrô Comedy, dentre tantas que irão surgir nas próximas semanas.

O Espírito Santo não ficou para trás: o Vix Comedy Club tem uma programação especial de stand ups: Gui Preto Em Fase de Teste, Lucas Mendes em Socialmente Confuso, Jhordan Matheus em Textani e Ítalo Sena em Mostrando meu trabalho.

Como em qualquer modalidade artística, o que deveria prevalecer para diferenciar um espetáculo de outro seria a qualidade, mas, no caso do stand up, isso parece não ter a menor importância, pois as plateias saem de casa predispostas a rir e levam a cabo essa premissa haja o que houver. Faça chuva ou faça sol, o público está lá para isso, paga uma grana legal e não está disposto a desperdiçar a oportunidade.

Como não poderia deixar de ser, esse novo formato está influenciando a atitude do público no sentido de formar gargalhadores ensandecidos que já não conseguem acompanhar uma trama de teatro convencional, pois riem de tudo, até das cenas mais dramáticas. Garimpam motes aleatórios aqui & ali como se estivessem no sofá de suas casas assistindo a um pastelão qualquer. Pode ser Tennessee Williams, Eugene O`Neill ou até Shakespeare: na primeira vacilada, pimba, desatam a rir e não param mais.

Eu sei que questionar uma tendência popular institucionalizada resvala invariavelmente no elitismo, mas que se há de fazer? Ninguém é perfeito.

Não me consta que os stand ups americanos ou ingleses tenham tirado público do teatro tradicional, pois os shows da Broadway continuaram a todo vapor e as representações de textos clássicos ou experimentais em Nova York ou Londres não sofreram qualquer tipo de descontinuidade, pois havia (e há) público para tudo, mas no Brasil o buraco é sempre mais embaixo. A preferência por esse formato é inequívoca, o público lota as salas de espetáculo como nunca se viu em relação ao teatro convencional, pois (entre outros casuísmos) o fenômeno é alimentado pelo trânsito midiático desses artistas na TV, que lhes dá maior projeção.

Enfim, é o que temos para o momento. Se devemos ou não fazer uma reflexão, fica a cargo de cada um.

 

 

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NOS ANOS DE CHUMBO https://teatrohoje.com.br/2021/12/29/nos-anos-de-chumbo/ Wed, 29 Dec 2021 12:45:10 +0000 https://teatrohoje.com.br/?p=100430 A vida teatral capixaba sofreu profundas transformações com a ditadura militar depois do golpe (1964 – 1985). Segundo Duílio Kuster, este período pode ser subdivido em três fases. Na primeira, compreendida entre os anos de 1964 a 1969, existiam poucos grupos teatrais em atividade, entre eles os coletivos Geração, Equipe e Praça Oito, além de experiências isoladas como as montagens do carioca recém chegado ao Espírito Santo, Milson Henriques. Num segundo momento, compreendido entre 1970 até o início de 1977, foi criada, pelo poder estadual, a Fundação Cultural do Espírito Santo (FCES) com o objetivo de planejar e executar a política cultural do governo. A instituição passou a desenvolver uma série de ações em prol da atividade teatral, como a reforma e reinauguração do Teatro Carlos Gomes; a contratação de espetáculos do Rio de Janeiro e São Paulo para realizarem as suas estreias em Vitória; a realização de um concurso de dramaturgia, do I Festival Capixaba de Teatro Amador e de cursos de formação dramática; a criação de grupos teatrais mantidos pelo Estado, como o Grupo de Teatro Amador Carlos Gomes e o Grupo de Teatro da FCES; a concessão de verbas para montagens teatrais e a criação de novos espaços de apresentação, como o Teatro Estúdio, também localizado no centro da capital, e o Circo da Cultura, que possuía um aspecto itinerante. Paralelamente a isso, os artistas teatrais capixabas também passaram a sofrer com a censura imposta pelos militares, assim como ocorria nos demais estados da federação. No começo da década de 1970, ocorreu aquele que pode ser considerado um marco tanto da ação da Censura Federal no Estado quanto da reação dos artistas. Ensaio Geral foi um musical com temática de protesto e que teve o texto proibido pouco antes de sua estreia. Com isso, a equipe optou por manter o espetáculo apenas com música e expressão corporal. Mesmo assim, no dia da realização do ensaio geral para a Censura, a apresentação foi novamente proibida. Tendo em vista que a produção já tinha realizada, os artistas resolveram levar a empreitada adiante e, ao término da encenação, muitos foram convocados a prestar depoimentos Polícia Federal. Além deste episódio específico, é possível estabelecer um quadro de referência sobre a ação da Censura com relação à atividade teatral no Espírito Santo. Todo artista deveria ser cadastrado na Polícia Federal. Os textos dos espetáculos eram enviados para Brasília e, cerca de três meses depois, os grupos recebiam a resposta sobre a liberação total, parcial ou interdição do texto. Mesmo com a liberação, deveria ocorrer uma apresentação especial para os censores que acompanhavam se a equipe estava respeitando os trechos cortados. Além disso, os censores poderiam aparecer nos espetáculos para verificarem se a peça correspondia ao que tinha sido apresentado no ensaio. Se os artistas insistissem em se apresentar, violando a determinação da Censura, eles deveriam pagar multas e, caso a infração se repetisse por três vezes, poderiam ser detidos. Na terceira fase do teatro capixaba durante a ditadura, compreendida entre o final de 1977 e começo da década seguinte, observamos uma situação paradoxal. Por um lado, é perceptível o desenvolvimento do movimento teatral com o surgimento de novos grupos. Esse avanço ocorreu através da conjunção de alguns fatores, como as ações desenvolvidas pela Fundação Cultural do Espírito Santo; a criação da Federação Capixaba de Teatro (FECATA) em 1976 e pelo movimento estudantil da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) ligado às Mostras de Teatro realizadas pela instituição entre os anos de 1976 e 1979. Por outro lado, houve uma redução no repasse de verbas do Estado para a Fundação, perceptível na crise que se abateu sobre a instituição. Apesar de continuarem a existir algumas ações em prol da atividade teatral, como a criação de um Prêmio de Dramaturgia e de um Edital de Patrocínio de Montagens e a realização do III Encontro Capixaba de Teatro Amador, do II Seminário sobre o Teatro no Espírito Santo e o I Ciclo Capixaba de Teatro, essas foram em número menor do que no primeiro momento, assim como qualitativamente diferentes, com a FCES limitando-se a ser, na maior parte das vezes, uma apoiadora dos eventos mencionados, principalmente no papel de fornecedora do Teatro Carlos Gomes para a realização dessas ações. Essa crise culminaria na extinção da própria Fundação Cultural e comprometeu sensivelmente as ações que vinham sendo desenvolvidas em prol do teatro capixaba até então. A partir da segunda metade da década de 1980 e ao longo dos anos 1990, o teatro de grupo capixaba sofreu um retraimento. Com algumas poucas exceções – como os Grupos Z, Tarahumaras, Rerigtiba e Gota, Pó e Poeira, criados na época e que ainda se mantêm em atividade – o período foi marcado, de maneira geral, por iniciativas individuais de diretores/produtores que contratavam elencos temporários para determinada montagem, em especial infantil. Essas produções, em sua maioria, eram patrocinadas por empresas privadas graças à Lei Rubem Braga, criada em 1991 na capital, uma das primeiras leis de incentivo fiscal a surgirem no país. Em contrapartida, foi também na década de 1990 que foi criada aquela que é até hoje a única escola pública de formação teatral de todo o Estado. A então chamada Escola de Artes FAFI foi criada em 1992 e oferecia diversas oficinas artísticas, entre elas a de teatro. Em 1998, passou a se chamar Escola de Teatro e Dança FAFI, oferecendo cursos de qualificação profissional nessas duas áreas.

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A vida teatral capixaba sofreu profundas transformações com a ditadura militar depois do golpe (1964 – 1985). Segundo Duílio Kuster, este período pode ser subdivido em três fases. Na primeira, compreendida entre os anos de 1964 a 1969, existiam poucos grupos teatrais em atividade, entre eles os coletivos Geração, Equipe e Praça Oito, além de experiências isoladas como as montagens do carioca recém chegado ao Espírito Santo, Milson Henriques.

Num segundo momento, compreendido entre 1970 até o início de 1977, foi criada, pelo poder estadual, a Fundação Cultural do Espírito Santo (FCES) com o objetivo de planejar e executar a política cultural do governo. A instituição passou a desenvolver uma série de ações em prol da atividade teatral, como a reforma e reinauguração do Teatro Carlos Gomes; a contratação de espetáculos do Rio de Janeiro e São Paulo para realizarem as suas estreias em Vitória; a realização de um concurso de dramaturgia, do I Festival Capixaba de Teatro Amador e de cursos de formação dramática; a criação de grupos teatrais mantidos pelo Estado, como o Grupo de Teatro Amador Carlos Gomes e o Grupo de Teatro da FCES; a concessão de verbas para montagens teatrais e a criação de novos espaços de apresentação, como o Teatro Estúdio, também localizado no centro da capital, e o Circo da Cultura, que possuía um aspecto itinerante.

Paralelamente a isso, os artistas teatrais capixabas também passaram a sofrer com a censura imposta pelos militares, assim como ocorria nos demais estados da federação. No começo da década de 1970, ocorreu aquele que pode ser considerado um marco tanto da ação da Censura Federal no Estado quanto da reação dos artistas. Ensaio Geral foi um musical com temática de protesto e que teve o texto proibido pouco antes de sua estreia.

Com isso, a equipe optou por manter o espetáculo apenas com música e expressão corporal. Mesmo assim, no dia da realização do ensaio geral para a Censura, a apresentação foi novamente proibida. Tendo em vista que a produção já tinha realizada, os artistas resolveram levar a empreitada adiante e, ao término da encenação, muitos foram convocados a prestar depoimentos Polícia Federal.

Além deste episódio específico, é possível estabelecer um quadro de referência sobre a ação da Censura com relação à atividade teatral no Espírito Santo. Todo artista deveria ser cadastrado na Polícia Federal. Os textos dos espetáculos eram enviados para Brasília e, cerca de três meses depois, os grupos recebiam a resposta sobre a liberação total, parcial ou interdição do texto. Mesmo com a liberação, deveria ocorrer uma apresentação especial para os censores que acompanhavam se a equipe estava respeitando os trechos cortados.

Além disso, os censores poderiam aparecer nos espetáculos para verificarem se a peça correspondia ao que tinha sido apresentado no ensaio. Se os artistas insistissem em se apresentar, violando a determinação da Censura, eles deveriam pagar multas e, caso a infração se repetisse por três vezes, poderiam ser detidos.

Na terceira fase do teatro capixaba durante a ditadura, compreendida entre o final de 1977 e começo da década seguinte, observamos uma situação paradoxal. Por um lado, é perceptível o desenvolvimento do movimento teatral com o surgimento de novos grupos.

Esse avanço ocorreu através da conjunção de alguns fatores, como as ações desenvolvidas pela Fundação Cultural do Espírito Santo; a criação da Federação Capixaba de Teatro (FECATA) em 1976 e pelo movimento estudantil da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) ligado às Mostras de Teatro realizadas pela instituição entre os anos de 1976 e 1979.

Por outro lado, houve uma redução no repasse de verbas do Estado para a Fundação, perceptível na crise que se abateu sobre a instituição. Apesar de continuarem a existir algumas ações em prol da atividade teatral, como a criação de um Prêmio de Dramaturgia e de um Edital de Patrocínio de Montagens e a realização do III Encontro Capixaba de Teatro Amador, do II Seminário sobre o Teatro no Espírito Santo e o I Ciclo Capixaba de Teatro, essas foram em número menor do que no primeiro momento, assim como qualitativamente diferentes, com a FCES limitando-se a ser, na maior parte das vezes, uma apoiadora dos eventos mencionados, principalmente no papel de fornecedora do Teatro Carlos Gomes para a realização dessas ações. Essa crise culminaria na extinção da própria Fundação Cultural e comprometeu sensivelmente as ações que vinham sendo desenvolvidas em prol do teatro capixaba até então.

A partir da segunda metade da década de 1980 e ao longo dos anos 1990, o teatro de grupo capixaba sofreu um retraimento. Com algumas poucas exceções – como os Grupos Z, Tarahumaras, Rerigtiba e Gota, Pó e Poeira, criados na época e que ainda se mantêm em atividade – o período foi marcado, de maneira geral, por iniciativas individuais de diretores/produtores que contratavam elencos temporários para determinada montagem, em especial infantil. Essas produções, em sua maioria, eram patrocinadas por empresas privadas graças à Lei Rubem Braga, criada em 1991 na capital, uma das primeiras leis de incentivo fiscal a surgirem no país.

Em contrapartida, foi também na década de 1990 que foi criada aquela que é até hoje a única escola pública de formação teatral de todo o Estado. A então chamada Escola de Artes FAFI foi criada em 1992 e oferecia diversas oficinas artísticas, entre elas a de teatro. Em 1998, passou a se chamar Escola de Teatro e Dança FAFI, oferecendo cursos de qualificação profissional nessas duas áreas.

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Reflexões sobre a dessacralização do teatro https://teatrohoje.com.br/2021/04/26/reflexoes-sobre-a-dessacralizacao-do-teatro/ Mon, 26 Apr 2021 13:08:01 +0000 https://teatrohoje.com.br/?p=98750 Antes da pandemia, eu e uma amiga (vamos chamar de Raquel) fomos assistir a Não sobre rouxinóis, um texto inédito (1938) do Tennessee Williams que foi encontrado depois de sua morte num baú ou no sótão de uma de suas mansões ou na casa de um ex-amante, algo assim. Uma curiosidade, no fim das contas. Tudo indicava que seria descartável. Mas o histórico era bom: seria sua estreia no teatro se tivesse ganhado um concurso. Como perdeu, nunca montou a peça, colocou o texto na gaveta, possivelmente ressentido & magoado, e tocou pra frente, engrenando uma carreira brilhante que se estendeu (com mais altos que baixos) até sua morte. Com pretensões de crítica social, a peça toca, é forte, com cenas violentíssimas numa prisão do sul dos Estados Unidos. Desmandos, autoritarismo, torturas, greve de fome, reivindicações, assassinatos de presos comuns. Resumindo: não é uma curiosidade, muito menos descartável; poderia ter sido um caminho dramatúrgico que o autor achou melhor não dar continuidade; resolveu adentrar outras searas: a do conflito familiar, por exemplo, no que fez muito bem. Saímos da sala devastados, em cacos. E, como eu havia previsto, sentamos num café na área de alimentação, embora eu preferisse alguma coisa menos clean ao ar livre, de onde poderíamos ver pessoas de verdade e não manequins embalsamados. Conversamos, trocamos ideias, divagamos. Houve consenso em relação aos aspectos positivos. A cenografia, por exemplo, era exuberante, os figurinos, a iluminação, mas, revisitando a estrutura da peça em termos técnicos, eu disse: Faltou o ritual. Que ritual? O ritual dramatúrgico, respondi. Por exemplo: há cenas muito explícitas, onde o diretor se esqueceu de estilizar os movimentos. Não entendo. O que você quer dizer com isso? Quero dizer que a encenação peca por achar que a denúncia é o suficiente. E não é? Em termos de propósito, pode até ser. Como obra de arte, tem seus defeitos. Raquel disse: Lá vem você de novo com essas análises estetizantes. A peça é boa porque emociona. E pronto! Não é tão fácil assim! É, sim. É só isso. Eu vou ao teatro para me emocionar. Você não se emocionou? Claro, eu disse, mas, depois, mais frio, cabeça no lugar, a gente pode avaliar o todo com mais isenção. O todo é a denúncia, ela decretou. O todo é a denúncia + o estilo + o ritual. Não podemos simplesmente colocar tudo em termos de emoção. Afinal, em qualquer obra de arte, há mortes e sofrimento. Raramente não nos emocionamos, mas isso não quer dizer que o autor seguiu o caminho mais conveniente. Como não verifiquei resultado algum nas minhas palavras, continuei: Você sabe que existe uma certa predisposição na sociedade de hoje para que as pessoas se emocionem. O cinema sabe disso, o teatro, a literatura, os telejornais. É a indústria das emoções gratuitas. Qualquer frase babaca escrita no facebook por um pangaré emociona um espírito mais ingênuo. Eu, por exemplo, me emociono com os silêncios que a Rosi Campos coloca entre os diálogos; me emociono com o timing perfeito da Letícia Isnard quando seu personagem se descontrola; me emociono com o olhar infantil da Dira Paes; ficava pasmo com a profusão de sentimentos & cores & sutilezas que emanavam do rosto de Bibi Ferreira, mas não necessariamente numa cena melodramática. Bufando, Raquel perguntou: De que ritual você está falando? Do ritual preconizado por Artaud, por exemplo. Jogando a toalha (não por fraqueza, mas por estar de saco cheio), ela decretou: Isso aconteceu mesmo: a peça é baseada em fatos reais. E daí? O que eu tenho a ver com isso? Você acha que basta só porque aconteceu de verdade? É o suficiente para que o autor receba um salvo-conduto? Existem peças de teatro, romances e filmes baseados em fatos reais que são uma bela porcaria. É lícito a gente se emocionar com os fatos relatados, mas também é pertinente que possamos analisar a adequação do texto em relação à intenção primeira do autor. Só assim vamos reconhecer ou não a transcendência da obra de arte. Não te entendo, ela disse, há problemas no texto? Aparentemente, não: ele é certinho, bem escrito, com as marcações certas nos lugares corretos. Só estou dizendo que não devemos privilegiar em excesso a emoção em detrimento da estética. As pessoas, hoje, querem viver em Wonderland: rir muito, se emocionarem muito. São crianças brincando no parquinho da infância numa dissipação total; não querem ter compromissos com nada a não ser a própria felicidade. Isso é ruim? É. Por quê? Porque a arte virou uma coisa que serve apenas a necessidades somáticas. Nos animalizamos, Raquel. Impossível que você não veja isso. Talvez você não aceite a mudança. Que mudança? É provável que a arte não seja mais essa coisa sublime que você acha. E isso é bom? Talvez. Toda dessacralização tem o seu mérito. E não deve ter acontecido por acaso. Sempre há uma causa na parada. Emudeci. Não disse nem mais uma palavra. Era um enrosco que eu jamais imaginaria enfrentar na porra da minha vida. Não estava acompanhando o correr dos tempos. O mundo me atropelava. O velho espírito crítico entrava por labirintos obscuros. Causa? Que causa poderia haver para que a humanidade botasse no mesmo saco Tennessee Williams, stand up comedies, telenovelas e os pagodes que rimam coração com paixão? Devia aceitar. Ter bom senso. Acompanhar. Fazer pequenos ajustes. Reciclar-me. A felicidade tem seu preço. O romantismo terminou. A arte não é pra sempre. Ela tem períodos de conflito. Fases. Intervalos. Lacunas. Intermezzos. O que responder? Era hora de me transformar enfim no homo ludicus? Rir muito, me emocionar muito, entregar-me de corpo & alma a obras de arte baseadas em fatos reais? Dissolver-me, amalgamar-me; a realidade me pegava pela retaguarda e me sodomizava. Existe apenas uma verdade, nada é relativo. Sofrer não é moderno. A felicidade vem em pequenos frascos. Devemos degustá-la (e abençoá-la). Mas havia outra questão: se o estilo não importa (só a emoção), por que Arthur Miller, Plínio Marcos, Georg Büchner e Lillian Hellman escreveram sobre os mesmos temas universais cada qual a sua maneira? Não era justamente o estilo que os diferenciava um do outro? Tudo se resumiria a Gostei ou Não gostei? Me emocionou ou não me emocionou? Curti ou não curti? Estaria toda uma legião de bisnetos do Marcel Duchamp instalando sub-repticiamente rodas de bicicleta nas casas de espetáculos, lojas de discos & livrarias, no sentido de dessacralizar o teatro, a música, o cinema e a poesia? Esses mimosos ready mades relativizariam a importância das obras de arte, quitando-lhes a porção sublime e adaptando-as aos novos tempos, massificando, democratizando & homogeneizando o produto para que pudesse ser consumido como sabão em pó, sem o menor ranço de elitismo? Como seria o desdobramento daquilo tudo? Um rapper recitando:   To be, or not to be, that is the question: Whether ‘tis nobler in the mind to suffer The slings and arrows of outrageous fortune, Or to take arms against a sea of troubles   enquanto o outro, com o microfone enfiado no esôfago, responderia da outra ponta do palco   txtup, txtup, txtup, txtup, txtup, txtup

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Antes da pandemia, eu e uma amiga (vamos chamar de Raquel) fomos assistir a Não sobre rouxinóis, um texto inédito (1938) do Tennessee Williams que foi encontrado depois de sua morte num baú ou no sótão de uma de suas mansões ou na casa de um ex-amante, algo assim. Uma curiosidade, no fim das contas. Tudo indicava que seria descartável. Mas o histórico era bom: seria sua estreia no teatro se tivesse ganhado um concurso. Como perdeu, nunca montou a peça, colocou o texto na gaveta, possivelmente ressentido & magoado, e tocou pra frente, engrenando uma carreira brilhante que se estendeu (com mais altos que baixos) até sua morte.

Com pretensões de crítica social, a peça toca, é forte, com cenas violentíssimas numa prisão do sul dos Estados Unidos. Desmandos, autoritarismo, torturas, greve de fome, reivindicações, assassinatos de presos comuns. Resumindo: não é uma curiosidade, muito menos descartável; poderia ter sido um caminho dramatúrgico que o autor achou melhor não dar continuidade; resolveu adentrar outras searas: a do conflito familiar, por exemplo, no que fez muito bem.

Saímos da sala devastados, em cacos. E, como eu havia previsto, sentamos num café na área de alimentação, embora eu preferisse alguma coisa menos clean ao ar livre, de onde poderíamos ver pessoas de verdade e não manequins embalsamados. Conversamos, trocamos ideias, divagamos. Houve consenso em relação aos aspectos positivos. A cenografia, por exemplo, era exuberante, os figurinos, a iluminação, mas, revisitando a estrutura da peça em termos técnicos, eu disse:

Faltou o ritual.

Que ritual?

O ritual dramatúrgico, respondi. Por exemplo: há cenas muito explícitas, onde o diretor se esqueceu de estilizar os movimentos.

Não entendo. O que você quer dizer com isso?

Quero dizer que a encenação peca por achar que a denúncia é o suficiente.

E não é?

Em termos de propósito, pode até ser. Como obra de arte, tem seus defeitos.

Raquel disse: Lá vem você de novo com essas análises estetizantes. A peça é boa porque emociona. E pronto!

Não é tão fácil assim!

É, sim. É só isso. Eu vou ao teatro para me emocionar. Você não se emocionou?

Claro, eu disse, mas, depois, mais frio, cabeça no lugar, a gente pode avaliar o todo com mais isenção.

O todo é a denúncia, ela decretou.

O todo é a denúncia + o estilo + o ritual. Não podemos simplesmente colocar tudo em termos de emoção. Afinal, em qualquer obra de arte, há mortes e sofrimento. Raramente não nos emocionamos, mas isso não quer dizer que o autor seguiu o caminho mais conveniente.

Como não verifiquei resultado algum nas minhas palavras, continuei:

Você sabe que existe uma certa predisposição na sociedade de hoje para que as pessoas se emocionem. O cinema sabe disso, o teatro, a literatura, os telejornais. É a indústria das emoções gratuitas. Qualquer frase babaca escrita no facebook por um pangaré emociona um espírito mais ingênuo. Eu, por exemplo, me emociono com os silêncios que a Rosi Campos coloca entre os diálogos; me emociono com o timing perfeito da Letícia Isnard quando seu personagem se descontrola; me emociono com o olhar infantil da Dira Paes; ficava pasmo com a profusão de sentimentos & cores & sutilezas que emanavam do rosto de Bibi Ferreira, mas não necessariamente numa cena melodramática.

Bufando, Raquel perguntou: De que ritual você está falando?

Do ritual preconizado por Artaud, por exemplo.

Jogando a toalha (não por fraqueza, mas por estar de saco cheio), ela decretou: Isso aconteceu mesmo: a peça é baseada em fatos reais.

E daí? O que eu tenho a ver com isso? Você acha que basta só porque aconteceu de verdade? É o suficiente para que o autor receba um salvo-conduto? Existem peças de teatro, romances e filmes baseados em fatos reais que são uma bela porcaria. É lícito a gente se emocionar com os fatos relatados, mas também é pertinente que possamos analisar a adequação do texto em relação à intenção primeira do autor. Só assim vamos reconhecer ou não a transcendência da obra de arte.

Não te entendo, ela disse, há problemas no texto?

Aparentemente, não: ele é certinho, bem escrito, com as marcações certas nos lugares corretos. Só estou dizendo que não devemos privilegiar em excesso a emoção em detrimento da estética. As pessoas, hoje, querem viver em Wonderland: rir muito, se emocionarem muito. São crianças brincando no parquinho da infância numa dissipação total; não querem ter compromissos com nada a não ser a própria felicidade.

Isso é ruim?

É.

Por quê?

Porque a arte virou uma coisa que serve apenas a necessidades somáticas. Nos animalizamos, Raquel. Impossível que você não veja isso.

Talvez você não aceite a mudança.

Que mudança?

É provável que a arte não seja mais essa coisa sublime que você acha.

E isso é bom?

Talvez. Toda dessacralização tem o seu mérito. E não deve ter acontecido por acaso. Sempre há uma causa na parada.

Emudeci. Não disse nem mais uma palavra. Era um enrosco que eu jamais imaginaria enfrentar na porra da minha vida. Não estava acompanhando o correr dos tempos. O mundo me atropelava. O velho espírito crítico entrava por labirintos obscuros. Causa? Que causa poderia haver para que a humanidade botasse no mesmo saco Tennessee Williams, stand up comedies, telenovelas e os pagodes que rimam coração com paixão? Devia aceitar. Ter bom senso. Acompanhar. Fazer pequenos ajustes. Reciclar-me. A felicidade tem seu preço. O romantismo terminou. A arte não é pra sempre. Ela tem períodos de conflito. Fases. Intervalos. Lacunas. Intermezzos.

O que responder? Era hora de me transformar enfim no homo ludicus? Rir muito, me emocionar muito, entregar-me de corpo & alma a obras de arte baseadas em fatos reais? Dissolver-me, amalgamar-me; a realidade me pegava pela retaguarda e me sodomizava. Existe apenas uma verdade, nada é relativo. Sofrer não é moderno. A felicidade vem em pequenos frascos. Devemos degustá-la (e abençoá-la).

Mas havia outra questão: se o estilo não importa (só a emoção), por que Arthur Miller, Plínio Marcos, Georg Büchner e Lillian Hellman escreveram sobre os mesmos temas universais cada qual a sua maneira? Não era justamente o estilo que os diferenciava um do outro? Tudo se resumiria a Gostei ou Não gostei? Me emocionou ou não me emocionou? Curti ou não curti?

Estaria toda uma legião de bisnetos do Marcel Duchamp instalando sub-repticiamente rodas de bicicleta nas casas de espetáculos, lojas de discos & livrarias, no sentido de dessacralizar o teatro, a música, o cinema e a poesia? Esses mimosos ready mades relativizariam a importância das obras de arte, quitando-lhes a porção sublime e adaptando-as aos novos tempos, massificando, democratizando & homogeneizando o produto para que pudesse ser consumido como sabão em pó, sem o menor ranço de elitismo? Como seria o desdobramento daquilo tudo? Um rapper recitando:

 

To be, or not to be, that is the question:

Whether ‘tis nobler in the mind to suffer

The slings and arrows of outrageous fortune,

Or to take arms against a sea of troubles

 

enquanto o outro, com o microfone enfiado no esôfago, responderia da outra ponta do palco

 

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Habemus um secretário de Cultura https://teatrohoje.com.br/2021/01/06/habemus-um-secretario-de-cultura/ Wed, 06 Jan 2021 06:39:56 +0000 https://teatrohoje.com.br/?p=95804 Depois de amargar quatro anos de descaso total em relação à cultura e as artes, enfim, foi empossado Marcus Faustini como novo Secretário Municipal da Cultura do Rio de Janeiro. Seu currículo, para quem não o conhece, promete: é diretor teatral, documentarista e escritor, e trabalha na área desde os anos 1990. Recebeu prêmio da ABL pela direção de Capitu (1999), adaptação do romance Dom Casmurro, de Machado de Assis. Escreveu o livro Guia Afetivo da Periferia (Ed. Aeroplano, 2009) e, em parceria com Jailson de Souza e Silva e Jorge Luiz Barbosa, o livro O novo carioca (Mórula Editorial, 2012). Em 2011, criou a metodologia da Agência de Redes para Juventude, com o objetivo de transformar ideias de jovens das favelas cariocas em projetos para impactar suas comunidades, aumentando suas redes e repertórios. Fundou a Escola Livre de Teatro da Zona Oeste, a Escola Livre de Cinema de Nova Iguaçu e a Escola Livre da Palavra na Lapa. Faustini foi superintendente de Cultura e Sociedade no primeiro mandato de Eduardo Paes na prefeitura. Sua mobilização em prol da valorização da cultura nas periferias e morros é conhecida. Sua atenção à pasta que ocupa, logo nos primeiros dias, e sua comunicação com a classe mostra uma posição diametralmente oposta aos secretários dos últimos quatro anos. Em sua primeira entrevista pública, para o jornal O Dia, ele afirma que fará da cultura uma ferramenta para inclusão social, pois a cidade tem vocação para abrir portas para jovens talentos e projetos de periferia. “É a grande missão transformar a cidade do Rio no grande farol de cultura e inclusão social do país. Toda mãe que vive em periferia sabe o quanto um projeto de cultura é importante na vida de um filho para o desenvolvimento pessoal ou até escolar. Na descoberta de talentos e possibilidades também. A nossa missão principal é voltar a fazer o Rio se tornar a capital cultural onde a cultura funciona como inclusão”. Na entrevista, Faustini esclarece que vai distribuir o orçamento da cultura de forma mais justa e criteriosa, com oportunidades e recursos para todas as regiões da cidade, “apoiando pequenos projetos, organizações, produtores que queiram colocar a sua arte e sua cultura para desenvolver pessoas e territórios. Isso vai ajudar a desenvolver o mercado da cultura”. Faustini garante que haverá fomento “para impulsionar o empreendedorismo cultural, pensando no desenvolvimento da economia da cultura e da estética dos espetáculos”. O secretário afirma que moverá esforços para dar novos rumos aos cinquenta equipamentos culturais da rede municipal, aqueles que foram praticamente abandonados pelo governo Crivella. Faustini pretende reformar os que se encontram deteriorados, mas também torná-los mais úteis à sociedade nos seus entornos, para que não sejam apenas palcos de espetáculos, mas que sirvam como área de lazer e sede para empreendedorismo local. Um projeto ambicioso, sem dúvida. Resta saber o que será possível realizar com o orçamento destinado a sua pasta, de que maneira será distribuído, se há uma real possibilidade de reabrir as salas de espetáculo do município em curto prazo, como e por quem serão administradas e se haverá verbas para o fomento no sentido de financiar peças de teatro, levando em conta que o secretário da fazenda já deixou claro que o antigo prefeito raspou o fundo do tacho e não existe dinheiro nem para pagar os funcionários públicos da saúde. Teoricamente, está tudo nos conformes. Em breve saberemos se isso tudo é exequível na prática e qual o orçamento da pasta será destinado ao teatro.

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Depois de amargar quatro anos de descaso total em relação à cultura e as artes, enfim, foi empossado Marcus Faustini como novo Secretário Municipal da Cultura do Rio de Janeiro. Seu currículo, para quem não o conhece, promete: é diretor teatral, documentarista e escritor, e trabalha na área desde os anos 1990.

Recebeu prêmio da ABL pela direção de Capitu (1999), adaptação do romance Dom Casmurro, de Machado de Assis. Escreveu o livro Guia Afetivo da Periferia (Ed. Aeroplano, 2009) e, em parceria com Jailson de Souza e Silva e Jorge Luiz Barbosa, o livro O novo carioca (Mórula Editorial, 2012).

Em 2011, criou a metodologia da Agência de Redes para Juventude, com o objetivo de transformar ideias de jovens das favelas cariocas em projetos para impactar suas comunidades, aumentando suas redes e repertórios. Fundou a Escola Livre de Teatro da Zona Oeste, a Escola Livre de Cinema de Nova Iguaçu e a Escola Livre da Palavra na Lapa.

Faustini foi superintendente de Cultura e Sociedade no primeiro mandato de Eduardo Paes na prefeitura.

Sua mobilização em prol da valorização da cultura nas periferias e morros é conhecida. Sua atenção à pasta que ocupa, logo nos primeiros dias, e sua comunicação com a classe mostra uma posição diametralmente oposta aos secretários dos últimos quatro anos.

Em sua primeira entrevista pública, para o jornal O Dia, ele afirma que fará da cultura uma ferramenta para inclusão social, pois a cidade tem vocação para abrir portas para jovens talentos e projetos de periferia.

“É a grande missão transformar a cidade do Rio no grande farol de cultura e inclusão social do país. Toda mãe que vive em periferia sabe o quanto um projeto de cultura é importante na vida de um filho para o desenvolvimento pessoal ou até escolar. Na descoberta de talentos e possibilidades também. A nossa missão principal é voltar a fazer o Rio se tornar a capital cultural onde a cultura funciona como inclusão”.

Na entrevista, Faustini esclarece que vai distribuir o orçamento da cultura de forma mais justa e criteriosa, com oportunidades e recursos para todas as regiões da cidade, “apoiando pequenos projetos, organizações, produtores que queiram colocar a sua arte e sua cultura para desenvolver pessoas e territórios. Isso vai ajudar a desenvolver o mercado da cultura”.

Faustini garante que haverá fomento “para impulsionar o empreendedorismo cultural, pensando no desenvolvimento da economia da cultura e da estética dos espetáculos”.

O secretário afirma que moverá esforços para dar novos rumos aos cinquenta equipamentos culturais da rede municipal, aqueles que foram praticamente abandonados pelo governo Crivella. Faustini pretende reformar os que se encontram deteriorados, mas também torná-los mais úteis à sociedade nos seus entornos, para que não sejam apenas palcos de espetáculos, mas que sirvam como área de lazer e sede para empreendedorismo local.

Um projeto ambicioso, sem dúvida. Resta saber o que será possível realizar com o orçamento destinado a sua pasta, de que maneira será distribuído, se há uma real possibilidade de reabrir as salas de espetáculo do município em curto prazo, como e por quem serão administradas e se haverá verbas para o fomento no sentido de financiar peças de teatro, levando em conta que o secretário da fazenda já deixou claro que o antigo prefeito raspou o fundo do tacho e não existe dinheiro nem para pagar os funcionários públicos da saúde.

Teoricamente, está tudo nos conformes. Em breve saberemos se isso tudo é exequível na prática e qual o orçamento da pasta será destinado ao teatro.

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A comédia dos erros sistêmicos https://teatrohoje.com.br/2020/12/28/a-comedia-dos-erros-sistemicos/ Mon, 28 Dec 2020 16:28:18 +0000 https://teatrohoje.com.br/?p=95718 Como este site já havia premeditado no Editorial de setembro, a Lei Aldir Blanc traria muita dor de cabeça aos que precisam do auxílio. Repetimos um trecho: “Apesar de já assinada e sancionada pelo governo, a Lei Aldir Blanc ainda tem um longo trajeto para que chegue até o bolso dos artistas de teatro. E, quando chegar, ainda teremos que assimilar as regras para quem ela será destinada. Ao que tudo indica, haverá um corpo de jurados que avaliará quem tem e quem não tem direito. Quais as prioridades? Que tipo de escala de valores será criada para resolver esse assunto? Quais requisitos serão impostos? Que protocolo será instaurado?” Não deu outra: depois de liberado pelo Ministério da Fazenda, o montante foi (teoricamente) distribuído para Estados e Municípios, mas em muitas localidades do Brasil a verba ou ainda não chegou ou está parada, criando limo, enquanto os alcaides de plantão tergiversam sobre o sexo dos anjos. O ano de 2021 começa com a expectativa da vacinação em massa contra a Covid, mas infelizmente não há vacina contra o superburocratização, a inércia, a incompetência, o maucaratismo e a falta de diálogo entre o Estado e seus municípios. Segundo informações da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Rio de Janeiro, o número total de habilitados e inabilitados para recebimento da renda emergencial foi modificado por decisão do governo federal. Em Ofício Nº 218/2020/SECDEC/SECULT, encaminhado pela Secretaria Especial de Cultura (vinculada ao Ministério do Turismo) à SECEC/RJ, foi comunicada a “identificação de inconsistências no cruzamento de dados na consulta de alguns CPFs que estariam inelegíveis para o recebimento do auxílio emergencial”. O documento solicitou reprocessamento da consulta, o que gerou uma lista de 342 benefícios habilitados indevidamente pelo Dataprev ao recebimento da Renda Emergencial no estado do Rio de Janeiro. O referido ofício acrescentou que, caso o pagamento já tivesse sido realizado, fossem tomadas “as devidas providências para a restituição dos recursos”. O erro sistêmico do Dataprev ocorreu em todos os estados do Brasil. No caso do Rio de Janeiro, foi gerada uma nova listagem de habilitados a receber a renda emergencial, totalizando 1.699 benefícios, inclusive 23 mães monoparentais que receberão duas cotas. O novo processamento de dados do Dataprev atrasou parcialmente o repasse dos pagamentos, previstos na Resolução SECEC nº 125/2020, para que fosse possível garantir que nenhum benefício fosse pago indevidamente. A Secretaria informava ainda que, até alguns dias atrás, dos 1.699 trabalhadores aptos a receber a renda emergencial, o status acerca dos depósitos de pagamento estava assim: 1.145 benefícios já tinham sido efetuados e 35 benefícios ainda não tinham informado os dados bancários. Afirmava ainda que os benefícios em processamento e aqueles trabalhadores e trabalhadoras da cultura que haviam enviado as contas bancárias corretamente teriam os pagamentos realizados em breve. Mas alertava: aqueles que não informarem as contas não poderão receber o benefício, tampouco os nomes no qual houve erro no processamento de dados da Dataprev/Governo Federal. A Secretaria de Estado de Cultura buscou o diálogo junto aos órgãos federais sobre a revisão do processamento de dados e lamentava pelo ocorrido, adiantando que não era possível homologar o acesso ao auxílio sem a validação da DataPrev, sob pena de devolução do recurso por parte da pessoa que recebeu indevidamente e aplicações penais previstas em lei. O seja, começaram os erros e, das centenas de milhares de trabalhadores da cultura espalhados pelo Estado, apenas 1.699 estariam aptos a receber o auxílio até então. Uma pergunta: por que cargas d’água os 35 não teriam informado seus dados bancários? Foi realmente isso que ocorreu? Como sempre acontece, os que não tinham direito ao auxílio da Lei Aldir Blanc embolsaram antes dos que estariam aptos a receber. A comédia dos erros, a exemplo do que ocorreu com o auxílio emergencial geral (caso dos militares, funcionários públicos e moradores da Barra da Tijuca que o receberam ilegalmente), se repete mais uma vez, sem que autoridade alguma consiga resolver o imbróglio e, para dizer a verdade, nem vontade política tem. Aliás, nem os políticos, pois o prefeito está preso e o governador no meio de um processo de impeachment. A Lei Aldir Blanc no Rio de Janeiro será resolvida (ou não) por interinos. Além de todo esse caos, ainda há o agravante de que a Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do Rio de Janeiro tem contrato com o Banco Bradesco que exige a abertura de contas no banco para recolhimento de pagamentos, o que faz com que o beneficiário ainda corra o risco de não conseguir abrir a conta no banco e apresentar o extrato exigido pela secretaria em tempo, até hoje, dia 28.12.2020. O que dificulta ainda mais tudo isso é que o problema não recebeu a devida atenção da mídia impressa e eletrônica, ao contrário do auxílio emergencial e do crédito financeiro a comerciantes e empresários. Sem que esse impasse seja largamente denunciado em detalhes na TV, ninguém fica sabendo, escancarando ainda mais a pouca importância que o jornalismo nacional dá à cultura e às artes em geral.   Muito barulho por nada A situação de Minas Gerais, por exemplo, estava um verdadeiro caos no fim de 2020. Em reunião do Fórum Estadual de Cultura, foram lançados vários alertas: A incidência dos 27.5% de imposto sobre os valores eram inconstitucionais, pois não poderiam ser cobrados em virtude de ser um auxílio emergencial; Havia um conflito entre os editais; Em muitos editais, havia mais procura que oferta; O Estado teria que contratar pareceristas, mas só foram chamados 95, 1/3 do necessário. Resultado: não deram conta de avaliar todos os processos; A Secretaria não possuía pessoal suficiente para efetuar os pagamentos dentro do prazo; Na ausência do pessoal da Secretaria, o Palácio das Artes introduziu itens novos nos editais, que não foram lidos a tempo de serem publicados. Em virtude do desmanche total que foi feito na estrutura do Palácio, o caos generalizou-se, prevalencendo a perspectiva de o auxílio poder não sair para ninguém. E nem o secretário da Cultura nem o governador de Minas Gerais e muito menos os prefeitos dos municípios sabiam o que fazer.   Sonho de uma noite de verão O sonho de conseguir um auxílio emergencial para os trabalhadores da classe artística através da Lei Aldir Blanc durante a pandemia transformou-se num pesadelo. Como se vê, não foram casos isolados, os problemas espalharam-se por todo o território nacional, como admite o próprio governo. O Espírito Santo é outro estado da Federação que vivenciou todas essas atribuladas movimentações para resolver (ou ao menos debater e denunciar) o absurdo instalado. Teatro Hoje contou com a correspondência do ator Peter Boos, um dos editores deste site, na Comissão de Monitoramento da Lei Aldir Blanc no Espírito Santo, da qual é membro eleito como representante da sociedade civil da região Centro-Norte do Estado. Ele colaborou com outros integrantes da comissão de outras regiões como Bruno Lima, Lara Toleto, Verônica Gomes, Fernanda Holz, João Paulo Verli, Carlos Ola e outros da elaboração de uma carta ao Centro de Apoio Operacional Cível e de Defesa da Cidadania (CACC) do Ministério Público do ES (MPES), mostrando as incongruências na aplicação da Lei Aldir Blanc no território capixaba. Entre elas, estão: 1) Falta de clareza nos prazos devido a orientações de procuradorias municipais de que o processo não fosse realizado via decreto, e sim apenas como lei após debate de projeto de lei na câmara de vereadores, o que fez com que houvesse adiamento das datas de início e fim das inscrições; 2) Divulgação falha apenas para círculos próximos do cadastro da lei no município, com vistas a evitar penalidades de legislação eleitoral, o que ocasionou pouco conhecimento sobre o direito de acesso ao recurso de auxílio emergencial pelo agente cultural e os meios para obtê-lo; 3) Não implementação de comissões de monitoramento nos conselhos municipais de cultura, o que provocou um isolamento do setor público no debate sobre a implementação da lei no município e o não acompanhamento fiscalizatório para garantir a distribuição democrática dos recursos; 4) Falta de mobilização das prefeituras municipais para efetivar todo o mapeamento de agentes culturais em tempo hábil para garantir a conclusão do cadastro de todos os rascunhos de formulários preenchidos pelos agentes; 5) Falta de disponibilidade do servidor público da cultura para garantir a inclusão de todos os artistas e técnicos da cultura em sua região no cadastramento, facilitando a desburocratização e auxiliando a certificação de grupos existentes há mais de dois anos ainda sem documentação oficial; 6) O não estímulo às associações de moradores com atividade cultural para que fizessem o cadastro para obtenção do recurso emergencial da lei, de maneira a estimular a realização de mais projetos culturais e o desenvolvimento do setor de economia criativa na região; 7) O fechamento cedo dos prazos para cadastros, o que fez com que muitos agentes não pudessem participar da distribuição ampla para os coletivos e espaços culturais, como prevê o Inciso II da lei, e que a maior parte dos recursos deste inciso fosse transferida antecipadamente para o Inciso III, que prevê o lançamento de editais para concorrência de projetos, fazendo com que agentes culturais tenham tido que enfrentar dificuldades na livre concorrência de elaboração de projetos; 8) A realização de editais com métodos de inscrição complexos e burocratizados, que não facilitaram o acesso de agentes culturais sem expertise na elaboração de projetos. Segundo   Segundo a comissão a “cultura não pode ser vista apenas como um valor material de consumo, e sim como um valor imaterial agregado pertencente ao todo da construção cultural de cada local, que merece participar da distribuição justa de recursos emergenciais e que devem estes ser vistos como aportes de investimento no futuro cognitivo e consciencial do país. Segundo a carta, apenas dessa maneira a cultura de cada região poderá ser efetivamente potencializada, como esperam os trabalhadores da cultura e toda a parcela da população que compreende a importância da expressão artística de um povo para o seu desenvolvimento econômico e social.” A Comissão de Monitoramento da Lei Aldir Blanc no Espírito Santo, do Conselho Estadual de Cultura (CEC), Secretaria de Estado da Cultura do Espírito Santo (SECULT-ES), solicita no documento ao MPES e ao CACC averiguação de incongruências no processo de implementação da Lei Aldir Blanc no Espírito Santo e orientações dos melhores encaminhamentos para auditorias nas esferas públicas responsáveis. Mais do trabalho da comissão pode ser visualizado em https://aldirblanc.es.blogspot.com/. Não é mistério para ninguém que o Governo Federal não recebeu com simpatia a Lei Aldir Blanc e fez de tudo para descaracterizá-la, para em seguida implodí-la. O descaso e a negligência são gritantes em relação aos trabalhadores das artes no Brasil. Pergunta valendo cinco pontos: você conhece algum país que extinguiu seu Ministério da Cultura e transformou-o numa Secretaria atrelada ao Ministério do Turismo?

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Como este site já havia premeditado no Editorial de setembro, a Lei Aldir Blanc traria muita dor de cabeça aos que precisam do auxílio. Repetimos um trecho:

“Apesar de já assinada e sancionada pelo governo, a Lei Aldir Blanc ainda tem um longo trajeto para que chegue até o bolso dos artistas de teatro. E, quando chegar, ainda teremos que assimilar as regras para quem ela será destinada.

Ao que tudo indica, haverá um corpo de jurados que avaliará quem tem e quem não tem direito. Quais as prioridades? Que tipo de escala de valores será criada para resolver esse assunto? Quais requisitos serão impostos? Que protocolo será instaurado?”

Não deu outra: depois de liberado pelo Ministério da Fazenda, o montante foi (teoricamente) distribuído para Estados e Municípios, mas em muitas localidades do Brasil a verba ou ainda não chegou ou está parada, criando limo, enquanto os alcaides de plantão tergiversam sobre o sexo dos anjos.

O ano de 2021 começa com a expectativa da vacinação em massa contra a Covid, mas infelizmente não há vacina contra o superburocratização, a inércia, a incompetência, o maucaratismo e a falta de diálogo entre o Estado e seus municípios.

Segundo informações da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Rio de Janeiro, o número total de habilitados e inabilitados para recebimento da renda emergencial foi modificado por decisão do governo federal. Em Ofício Nº 218/2020/SECDEC/SECULT, encaminhado pela Secretaria Especial de Cultura (vinculada ao Ministério do Turismo) à SECEC/RJ, foi comunicada a “identificação de inconsistências no cruzamento de dados na consulta de alguns CPFs que estariam inelegíveis para o recebimento do auxílio emergencial”.

O documento solicitou reprocessamento da consulta, o que gerou uma lista de 342 benefícios habilitados indevidamente pelo Dataprev ao recebimento da Renda Emergencial no estado do Rio de Janeiro. O referido ofício acrescentou que, caso o pagamento já tivesse sido realizado, fossem tomadas “as devidas providências para a restituição dos recursos”.

O erro sistêmico do Dataprev ocorreu em todos os estados do Brasil.

No caso do Rio de Janeiro, foi gerada uma nova listagem de habilitados a receber a renda emergencial, totalizando 1.699 benefícios, inclusive 23 mães monoparentais que receberão duas cotas.

O novo processamento de dados do Dataprev atrasou parcialmente o repasse dos pagamentos, previstos na Resolução SECEC nº 125/2020, para que fosse possível garantir que nenhum benefício fosse pago indevidamente.

A Secretaria informava ainda que, até alguns dias atrás, dos 1.699 trabalhadores aptos a receber a renda emergencial, o status acerca dos depósitos de pagamento estava assim: 1.145 benefícios já tinham sido efetuados e 35 benefícios ainda não tinham informado os dados bancários. Afirmava ainda que os benefícios em processamento e aqueles trabalhadores e trabalhadoras da cultura que haviam enviado as contas bancárias corretamente teriam os pagamentos realizados em breve.

Mas alertava: aqueles que não informarem as contas não poderão receber o benefício, tampouco os nomes no qual houve erro no processamento de dados da Dataprev/Governo Federal.

A Secretaria de Estado de Cultura buscou o diálogo junto aos órgãos federais sobre a revisão do processamento de dados e lamentava pelo ocorrido, adiantando que não era possível homologar o acesso ao auxílio sem a validação da DataPrev, sob pena de devolução do recurso por parte da pessoa que recebeu indevidamente e aplicações penais previstas em lei.

O seja, começaram os erros e, das centenas de milhares de trabalhadores da cultura espalhados pelo Estado, apenas 1.699 estariam aptos a receber o auxílio até então. Uma pergunta: por que cargas d’água os 35 não teriam informado seus dados bancários? Foi realmente isso que ocorreu?

Como sempre acontece, os que não tinham direito ao auxílio da Lei Aldir Blanc embolsaram antes dos que estariam aptos a receber.

A comédia dos erros, a exemplo do que ocorreu com o auxílio emergencial geral (caso dos militares, funcionários públicos e moradores da Barra da Tijuca que o receberam ilegalmente), se repete mais uma vez, sem que autoridade alguma consiga resolver o imbróglio e, para dizer a verdade, nem vontade política tem. Aliás, nem os políticos, pois o prefeito está preso e o governador no meio de um processo de impeachment. A Lei Aldir Blanc no Rio de Janeiro será resolvida (ou não) por interinos.

Além de todo esse caos, ainda há o agravante de que a Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do Rio de Janeiro tem contrato com o Banco Bradesco que exige a abertura de contas no banco para recolhimento de pagamentos, o que faz com que o beneficiário ainda corra o risco de não conseguir abrir a conta no banco e apresentar o extrato exigido pela secretaria em tempo, até hoje, dia 28.12.2020.

O que dificulta ainda mais tudo isso é que o problema não recebeu a devida atenção da mídia impressa e eletrônica, ao contrário do auxílio emergencial e do crédito financeiro a comerciantes e empresários. Sem que esse impasse seja largamente denunciado em detalhes na TV, ninguém fica sabendo, escancarando ainda mais a pouca importância que o jornalismo nacional dá à cultura e às artes em geral.

 

Muito barulho por nada

A situação de Minas Gerais, por exemplo, estava um verdadeiro caos no fim de 2020. Em reunião do Fórum Estadual de Cultura, foram lançados vários alertas:

  1. A incidência dos 27.5% de imposto sobre os valores eram inconstitucionais, pois não poderiam ser cobrados em virtude de ser um auxílio emergencial;
  2. Havia um conflito entre os editais;
  3. Em muitos editais, havia mais procura que oferta;
  4. O Estado teria que contratar pareceristas, mas só foram chamados 95, 1/3 do necessário. Resultado: não deram conta de avaliar todos os processos;
  5. A Secretaria não possuía pessoal suficiente para efetuar os pagamentos dentro do prazo;
  6. Na ausência do pessoal da Secretaria, o Palácio das Artes introduziu itens novos nos editais, que não foram lidos a tempo de serem publicados. Em virtude do desmanche total que foi feito na estrutura do Palácio, o caos generalizou-se, prevalencendo a perspectiva de o auxílio poder não sair para ninguém.

E nem o secretário da Cultura nem o governador de Minas Gerais e muito menos os prefeitos dos municípios sabiam o que fazer.

 

Sonho de uma noite de verão

O sonho de conseguir um auxílio emergencial para os trabalhadores da classe artística através da Lei Aldir Blanc durante a pandemia transformou-se num pesadelo. Como se vê, não foram casos isolados, os problemas espalharam-se por todo o território nacional, como admite o próprio governo.

O Espírito Santo é outro estado da Federação que vivenciou todas essas atribuladas movimentações para resolver (ou ao menos debater e denunciar) o absurdo instalado.

Teatro Hoje contou com a correspondência do ator Peter Boos, um dos editores deste site, na Comissão de Monitoramento da Lei Aldir Blanc no Espírito Santo, da qual é membro eleito como representante da sociedade civil da região Centro-Norte do Estado. Ele colaborou com outros integrantes da comissão de outras regiões como Bruno Lima, Lara Toleto, Verônica Gomes, Fernanda Holz, João Paulo Verli, Carlos Ola e outros da elaboração de uma carta ao Centro de Apoio Operacional Cível e de Defesa da Cidadania (CACC) do Ministério Público do ES (MPES), mostrando as incongruências na aplicação da Lei Aldir Blanc no território capixaba.

Entre elas, estão:

1) Falta de clareza nos prazos devido a orientações de procuradorias municipais de que o processo não fosse realizado via decreto, e sim apenas como lei após debate de projeto de lei na câmara de vereadores, o que fez com que houvesse adiamento das datas de início e fim das inscrições;

2) Divulgação falha apenas para círculos próximos do cadastro da lei no município, com vistas a evitar penalidades de legislação eleitoral, o que ocasionou pouco conhecimento sobre o direito de acesso ao recurso de auxílio emergencial pelo agente cultural e os meios para obtê-lo;

3) Não implementação de comissões de monitoramento nos conselhos municipais de cultura, o que provocou um isolamento do setor público no debate sobre a implementação da lei no município e o não acompanhamento fiscalizatório para garantir a distribuição democrática dos recursos;

4) Falta de mobilização das prefeituras municipais para efetivar todo o mapeamento de agentes culturais em tempo hábil para garantir a conclusão do cadastro de todos os rascunhos de formulários preenchidos pelos agentes;

5) Falta de disponibilidade do servidor público da cultura para garantir a inclusão de todos os artistas e técnicos da cultura em sua região no cadastramento, facilitando a desburocratização e auxiliando a certificação de grupos existentes há mais de dois anos ainda sem documentação oficial;

6) O não estímulo às associações de moradores com atividade cultural para que fizessem o cadastro para obtenção do recurso emergencial da lei, de maneira a estimular a realização de mais projetos culturais e o desenvolvimento do setor de economia criativa na região;

7) O fechamento cedo dos prazos para cadastros, o que fez com que muitos agentes não pudessem participar da distribuição ampla para os coletivos e espaços culturais, como prevê o Inciso II da lei, e que a maior parte dos recursos deste inciso fosse transferida antecipadamente para o Inciso III, que prevê o lançamento de editais para concorrência de projetos, fazendo com que agentes culturais tenham tido que enfrentar dificuldades na livre concorrência de elaboração de projetos;

8) A realização de editais com métodos de inscrição complexos e burocratizados, que não facilitaram o acesso de agentes culturais sem expertise na elaboração de projetos.

Segundo

 

Segundo a comissão a “cultura não pode ser vista apenas como um valor material de consumo, e sim como um valor imaterial agregado pertencente ao todo da construção cultural de cada local, que merece participar da distribuição justa de recursos emergenciais e que devem estes ser vistos como aportes de investimento no futuro cognitivo e consciencial do país. Segundo a carta, apenas dessa maneira a cultura de cada região poderá ser efetivamente potencializada, como esperam os trabalhadores da cultura e toda a parcela da população que compreende a importância da expressão artística de um povo para o seu desenvolvimento econômico e social.”

A Comissão de Monitoramento da Lei Aldir Blanc no Espírito Santo, do Conselho Estadual de Cultura (CEC), Secretaria de Estado da Cultura do Espírito Santo (SECULT-ES), solicita no documento ao MPES e ao CACC averiguação de incongruências no processo de implementação da Lei Aldir Blanc no Espírito Santo e orientações dos melhores encaminhamentos para auditorias nas esferas públicas responsáveis. Mais do trabalho da comissão pode ser visualizado em https://aldirblanc.es.blogspot.com/.

Não é mistério para ninguém que o Governo Federal não recebeu com simpatia a Lei Aldir Blanc e fez de tudo para descaracterizá-la, para em seguida implodí-la. O descaso e a negligência são gritantes em relação aos trabalhadores das artes no Brasil.

Pergunta valendo cinco pontos: você conhece algum país que extinguiu seu Ministério da Cultura e transformou-o numa Secretaria atrelada ao Ministério do Turismo?

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Manifesto contra a barbárie, a censura & a estupidez https://teatrohoje.com.br/2019/09/30/manifesto-contra-a-barbarie-a-censura-a-estupidez/ Mon, 30 Sep 2019 22:23:37 +0000 http://br1012.teste.website/~beeped34/beepecriaoc/teatrohoje/?p=73509 RESISTÊNCIA   A censura moral é a forma mais cruel & hipócrita de uniformizar a consciência. Geralmente, ela surge em momentos de crise de legitimidade do poder. Sempre foi assim, tanto na Idade Média quanto na Moderna, tanto em regimes totalitários quanto na democracia. Calar um artista que mostra a verdade é a forma mais estúpida que o sistema inventou para cair em desgraça pelos séculos afora, pois todos sabemos que o silêncio é limitado à sua época. Na primeira oportunidade, a História se encarrega de emitir essa verdade novamente, renová-la e colocá-la em pauta, desta vez para sempre. A intolerância religiosa & de gênero deve ser combatida logo quando nasce para que não vire um dogma. O que está acontecendo no Rio de Janeiro e no resto do país é fruto do desespero. Nenhum governo com o mínimo de credibilidade junto ao povo reagiria com violência. Em todos os momentos mais críticos da História, os artistas resistiram contra a barbárie & a intolerância imposta pelos governantes. Desta vez, não será diferente: lutaremos com todas nossas forças para que a insensibilidade e a ignorância não prevaleçam sobre a liberdade de expressão. E faremos do aforismo de Leônidas naquela famosa batalha nossa palavra de ordem: ao perceber que o inimigo lançava uma chuva de flechas sobre suas tropas, ele disse: “Melhor assim. Combateremos à sombra”.  

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RESISTÊNCIA

 

A censura moral é a forma mais cruel & hipócrita de uniformizar a consciência.

Geralmente, ela surge em momentos de crise de legitimidade do poder.

Sempre foi assim, tanto na Idade Média quanto na Moderna, tanto em regimes totalitários quanto na democracia.

Calar um artista que mostra a verdade é a forma mais estúpida que o sistema inventou para cair em desgraça pelos séculos afora, pois todos sabemos que o silêncio é limitado à sua época.

Na primeira oportunidade, a História se encarrega de emitir essa verdade novamente, renová-la e colocá-la em pauta, desta vez para sempre.

A intolerância religiosa & de gênero deve ser combatida logo quando nasce para que não vire um dogma.

O que está acontecendo no Rio de Janeiro e no resto do país é fruto do desespero. Nenhum governo com o mínimo de credibilidade junto ao povo reagiria com violência.

Em todos os momentos mais críticos da História, os artistas resistiram contra a barbárie & a intolerância imposta pelos governantes.

Desta vez, não será diferente: lutaremos com todas nossas forças para que a insensibilidade e a ignorância não prevaleçam sobre a liberdade de expressão.

E faremos do aforismo de Leônidas naquela famosa batalha nossa palavra de ordem: ao perceber que o inimigo lançava uma chuva de flechas sobre suas tropas, ele disse: “Melhor assim. Combateremos à sombra”.

 

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O que mantém um homem vivo https://teatrohoje.com.br/2019/10/28/o-que-mantem-um-homem-vivo/ Mon, 28 Oct 2019 09:04:45 +0000 http://desenv.teatrohoje.com.br/?p=69424 2017 Tudo começou dois anos atrás. Roberto Alvim descobre um tumor no intestino e entra em pânico. Considera-se condenado à morte. A babá evangélica de seu filho coloca a mão na sua cabeça e faz uma oração. Alvim sente a energia e vislumbra a luz. No dia seguinte, vai ao hospital e os exames revelam o milagre: o tumor tinha desaparecido. Converte-se ao catolicismo, frequenta duas missas diárias, tem uma série de iluminações e epifanias e mergulha de cabeça nos escritos de Olavo de Carvalho. Setembro, 2018 Roberto Alvim declara seu apoio a Jair Bolsonaro, que considera um santo, um mártir que irá salvar o Brasil. Outubro, 2018 Recebe críticas da classe teatral por essa opção. Perde amigos. Ninguém atende mais seus telefonemas. Chico Buarque retira os direitos autorais de sua peça Leite Derramado, um de seus sucessos recentes. 7 de junho, 2019 Roberto Alvim recebe um jornalista da Gazeta do Povo, do Paraná, e diz que está sendo perseguido pela esquerda. Em virtude do boicote, está fechando sua sede em São Paulo, o Club Noir, por absoluta falta de alunos em suas oficinas teatrais. 8 e 9 de junho, 2019 Dispara uma série de posts no facebook contando sua história e pedindo solidariedade. 10 de junho, 2019 Recebe o apoio incondicional de Regina Duarte e Carlos Vereza pelo facebook. 13 de junho, 2019 No meio de uma missa, o celular toca: é o presidente Jair Bolsonaro, que se solidariza com ele, agradece o apoio e marca uma reunião em Brasília. Falam por dez minutos. 16 de junho, 2019 Dá uma entrevista à revista Veja. O repórter pergunta como ele se sente apoiando um presidente homofóbico e admirador confesso do torturador Brilhante Ustra. Alvim diz que concorda com tudo, exaltando a coragem de Jair em fazer essas declarações publicamente. 17 de junho, 2019 Roberto Alvim encontra-se com Bolsonaro no Palácio do Planalto, em Brasília, acompanhado pelo Ministro da Cidadania, Osmar Terra. 18 de junho, 2019 O Globo on line publica uma matéria sobre Roberto Alvim convocando “artistas conservadores”, com o objetivo de criar uma “máquina de guerra cultural” e pede seus currículos para a criação de um banco de dados, que serão aproveitados em futuros projetos, reportando o que ele já tinha postado nas redes sociais dois dias antes. A classe teatral e diversas entidades protestam, alegando que o diretor seria a mais nova encarnação do MacCarthismo ao ideologizar a arte, ferindo inclusive o Art. 215 da Constituição Federal, que estabelece o pleno exercício dos direitos culturais e do acesso às fontes da cultura nacional. Recebe uma promessa do governo: ganhar um cargo na Secretaria Especial de Cultura.

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2017

Tudo começou dois anos atrás. Roberto Alvim descobre um tumor no intestino e entra em pânico. Considera-se condenado à morte.

A babá evangélica de seu filho coloca a mão na sua cabeça e faz uma oração. Alvim sente a energia e vislumbra a luz.

No dia seguinte, vai ao hospital e os exames revelam o milagre: o tumor tinha desaparecido.

Converte-se ao catolicismo, frequenta duas missas diárias, tem uma série de iluminações e epifanias e mergulha de cabeça nos escritos de Olavo de Carvalho.

Setembro, 2018

Roberto Alvim declara seu apoio a Jair Bolsonaro, que considera um santo, um mártir que irá salvar o Brasil.

Outubro, 2018

Recebe críticas da classe teatral por essa opção. Perde amigos. Ninguém atende mais seus telefonemas. Chico Buarque retira os direitos autorais de sua peça Leite Derramado, um de seus sucessos recentes.

7 de junho, 2019

Roberto Alvim recebe um jornalista da Gazeta do Povo, do Paraná, e diz que está sendo perseguido pela esquerda. Em virtude do boicote, está fechando sua sede em São Paulo, o Club Noir, por absoluta falta de alunos em suas oficinas teatrais.

8 e 9 de junho, 2019

Dispara uma série de posts no facebook contando sua história e pedindo solidariedade.

10 de junho, 2019

Recebe o apoio incondicional de Regina Duarte e Carlos Vereza pelo facebook.

13 de junho, 2019

No meio de uma missa, o celular toca: é o presidente Jair Bolsonaro, que se solidariza com ele, agradece o apoio e marca uma reunião em Brasília. Falam por dez minutos.

16 de junho, 2019

Dá uma entrevista à revista Veja. O repórter pergunta como ele se sente apoiando um presidente homofóbico e admirador confesso do torturador Brilhante Ustra. Alvim diz que concorda com tudo, exaltando a coragem de Jair em fazer essas declarações publicamente.

17 de junho, 2019

Roberto Alvim encontra-se com Bolsonaro no Palácio do Planalto, em Brasília, acompanhado pelo Ministro da Cidadania, Osmar Terra.

18 de junho, 2019

O Globo on line publica uma matéria sobre Roberto Alvim convocando “artistas conservadores”, com o objetivo de criar uma “máquina de guerra cultural” e pede seus currículos para a criação de um banco de dados, que serão aproveitados em futuros projetos, reportando o que ele já tinha postado nas redes sociais dois dias antes.

A classe teatral e diversas entidades protestam, alegando que o diretor seria a mais nova encarnação do MacCarthismo ao ideologizar a arte, ferindo inclusive o Art. 215 da Constituição Federal, que estabelece o pleno exercício dos direitos culturais e do acesso às fontes da cultura nacional.

Recebe uma promessa do governo: ganhar um cargo na Secretaria Especial de Cultura.

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