As primeiras manifestações cênicas no Brasil foram textos dos jesuítas, ainda no século XVI, e a então Capitania do Espírito Santo constituiu-se num local privilegiado para esse tipo de entretenimento didático, particularmente as obras do padre José de Anchieta que foi, sem dúvida, uma figura central, seja pelo seu pioneirismo, seja pela quantidade de peças escritas e encenadas.

Anchieta passou a maior parte de sua vida na Capitania do Espírito Santo, local onde ambientou e encenou a grande maioria de suas peças, apresentadas nas salas de estudos dos colégios jesuíticos, em praças públicas e nas aldeias.

Tinham o objetivo principal de auxiliar no processo de catequização dos povos indígenas, mas também funcionavam como principal forma de divertimento público na época, sua tradição permaneceu até depois da expulsão desta ordem religiosa no século XVIII.

Os títulos mais conhecidos das peças do Padre Anchieta foram o Auto da Vila da Vitória, Auto de Guaraparim, Auto na Visitação de Santa Isabel e Na Festa de São Lourenço.

Essas peças eram escritas em até quatro línguas e contavam acontecimentos da região, sempre com uma visão moralizadora, onde o jesuíta ensinava os “bons costumes” aos índios.

O padre tinha a habilidade de criar diálogos que eram entendidos com clareza pelos nativos. Usava de humor, sarcasmos e até danças pagãs para perpetuar a palavra da igreja.

Além de peças, Padre Anchieta escreveu cartas e poesias sobre o Brasil da época. Mesmo com uma visão unilateral, é possível aprender muita coisa sobre a época da colonização do nosso país.

Com todo respeito ao Padre Anchieta, imagina-se seu sufoco em explicar o mistério da Santíssima Trindade aos índios, pois não é das tarefas mais fáceis o entendimento de um grupo de entidades que abarca Pai, Filho, e cujo terceiro vértice é uma pomba, que, aliás atendia pela mesma alcunha que dava nome à então Capitania do Espírito Santo.

Segundo informações de Duílio Kuster, passado esse primeiro momento, outro período de interesse na história do teatro do Espírito Santo situa-se entre a segunda metade do século XIX e o começo XX, quando as representações teatrais familiares constituíam a única diversão agradável da classe culta, quase sempre honradas com a presença das primeiras autoridades da província.

Além do aspecto de entretenimento, o teatro no século XIX no Espírito Santo, assim como nas demais províncias do então império do Brasil, constituía uma espécie de intervenção social e elemento constitutivo de um ideal de nação. Nesse período, é possível identificar cerca de 10 sociedades e grêmios dramáticos, formados em sua maioria por representantes das elites cultural, econômica e política da província.

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