Das cinzas do incêndio sofrido pelo Theatro Melpômene, surgiu o Theatro Carlos Gomes. Interditado em 1925, o Melpômene foi completamente desmontado e todo o material foi adquirido por André Carloni, que construiu o Theatro Carlos Gomes utilizando as colunas metálicas do Melpômene para sustentar as galerias dos camarotes do novo teatro.

A Praça Costa Pereira passou por uma transformação radical do seu traçado, que excluía o Melpômene da sua conformação, mas previa em projeto a construção de dois teatros, incluindo o Carlos Gomes.

O projeto baseou-se no modelo italiano de “teatro em ferradura”, tipologia usada, por exemplo, no Teatro Solís, em Montevidéu, entre outros. Essa tipologia caracteriza-se por uma série de galerias superpostas em torno de uma plateia. Diante dela, está o palco, inserido em uma caixa que abriga os mecanismos cênicos e dispositivos de iluminação. O arquétipo do modelo dessa tipologia é o mesmo do Teatro Alla Scala, de Milão.

A obra foi inaugurada em janeiro de 1927. Pouco tempo depois, o teatro foi comprado pelo governo estadual, que passou a administrá-lo. Com a crise do café, em 1929, foi arrendado a uma firma particular e passou a funcionar também como cinema.

O teatro foi vendido ao governo do Estado em 1934, na administração de João Punaro Bley. A partir daí, teve seu uso restrito quase que exclusivamente às sessões de cinema. A função de teatro só viria a ser retomada no final da década de 1960, quando o edifício sofreu obras de restauro, que contemplaram a adequação do palco e do proscênio, o que permitiu as encenações teatrais.

Nessa reforma, houve a transformação dos camarotes, a colocação de um lustre ao modo de candelabro no centro do teto, e a repintura dos painéis do teto, executada pelo pintor Homero Massena.

Essa pintura do painel é baseada na vida do compositor Carlos Gomes. Na pintura, o nome do compositor brasileiro aparece ao lado dos três compositores que o inspiraram: Wagner, Bach e Verdi.

Em 1970, retomado pelo Estado, passa por uma ampla restauração, recuperando sua importância no cenário cultural de Vitória. Em 1983, foi tombado pelo Conselho Estadual de Cultura.

Os ecos da existência do Melpômene, porém, ainda reverberam naquele lugar: no Carlos Gomes, que herdou o posto de primeiro teatro; no programa multiuso do espaço (cinema-teatros-galeria de arte-biblioteca-salas de música, etc.) adotado pelo velho Glória, hoje Centro Cultural; na proximidade dos equipamentos públicos culturais da vizinhança (Escola de Teatro, Dança e Música FAFI; Museu de Artes do ES/MAES; Casa Porto; Palácio Sônia Cabral; Galeria Homero Massena; Palácio Anchieta; Arquivo Público Estadual; Museu do Negro), antes prédios públicos com usos diversos, hoje espaços da arte; nos inúmeros núcleos de cultura e coletivos artísticos hoje instalados no Centro; no movimento agregador da população e de seus grupos culturais por meio da energia que emana da praça; e no imaginário de quem soube um dia que ali existiu um velho teatro de madeira.

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