Beckett em incursões cinematográficas

Dizem que pouca gente conseguiu curtir Samuel Beckett como se deve e é provável que seja verdade. A maior parte dos fãs o reverencia com uma seriedade despropositada, não em relação à sua importância como artista, mas na maneira de acompanhar seus diálogos e suas propostas, embutidos de um humor sutil difícil de captar.

À maneira de Jorge Luís Borges na literatura, os escritos em prosa e as dramaturgias de Beckett aliam tristeza e o humor em igual medida. Na maior parte das vezes, esses dois elementos praticamente se anulam. No seguinte sentido: a pretensa grandiloquência de uma filosofia voltada para a derrocada fatal do relacionamento humano e a falência da linguagem na comunicação entre os homens são contrabalanceadas pela irreverência que detona a pretensa importância que eles se dão como seres humanos.

Em todos os seus trabalhos, essa autoironia presta-se a colocar dúvidas na mente de quem tenta absorver seus ensinamentos. Que não são ensinamentos, mas gags sardônicas. Não à toa, grande parte de seus personagens são clowns urbanos desapegados das regras sociais que teimam em estabelecer protótipos e vínculos com o bom senso numa sociedade que chafurda no lamaçal do absurdo.

Este apanhado significativo que garimpamos online no youtube para a formulação de uma lista de incursões cinematográficas com seus textos dá bem a medida de suas dramaturgias.

 

1.

Primeiro, Esperando Godot, peça de teatro escrita em 1952, provavelmente sua única tentativa de se comunicar com o grande público através de símbolos e metáforas que resumem a condição de um ser humano sem esperanças e que não sabe direito o que está fazendo no mundo. Em versão para o cinema de Michael Lindsey-Hogg, a postagem tem alguns problemas na legenda (em português), mas que não compromete o entendimento.

2.

Em seguida, Come and Go, um trio de tias fofoqueiras hilariante, como na versão para cinema dirigida por John Crow, na postagem com legendas em espanhol.

3.

Depois de detonar a linguagem (à maneira de James Joyce), Beckett voltou-se para o silêncio em Ato Sem Palavras, como se pode ver na versão de Carel Reisz.

4.

Há Quad, uma peça poema visual dirigida pelo próprio Beckett e transmitida na televisão pelo Suddeutscher Rundfunk, na Alemanha, em 8 de outubro de 1981 como Quadrat I+II, em que exercita seu encanto pelo movimento sincronizado, com trilha sonora de percussão ao invés de som de cronômetro, como indica o texto.

5.

Também Film, sua única incursão na telona (dramaturgia e direção) num média-metragem de 22 minutos com nada mais nada menos que o comediante Buster Keaton no papel principal.

6.

Pra fechar, pode-se também encontrar na internet uma versão para filme de A Última Gravação de Krapp, de Ian Rickson, com Harold Pinter como ator, seu mais ardoroso seguidor, e legendas em espanhol.

7.

E Catastrophe, dirigido por David Mamet, também com Harold Pinter e aparição bombástica do ator inglês John Gielgud, com legendas em espanhol.

Furio Lonza é um escritor, dramaturgo e jornalista ítalo-brasileiro.