"Ouvi dizer que a vida é boa" está no Teatro Ipanema de sábado a segunda-feira, até 17 de fevereiro. Para ver a sinopse, informações sobre a peça, horários, preços etc, clique aqui. Para publicar seu texto a respeito de alguma peça que tenha assistido, clique aqui para preencher o formulário.
Marcelo Aquino é gaúcho, radicado há dez anos no Rio de Janeiro, vem atuando como ator, diretor, professor teatral e preparador de atores
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]]>“Ouvi dizer que a vida é boa” está no Teatro Ipanema de sábado a segunda-feira, até 17 de fevereiro. Para ver a sinopse, informações sobre a peça, horários, preços etc, clique aqui. Para publicar seu texto a respeito de alguma peça que tenha assistido, clique aqui para preencher o formulário.
Marcelo Aquino é gaúcho, radicado há dez anos no Rio de Janeiro, vem atuando como ator, diretor, professor teatral e preparador de atores
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]]>Para relatar este encontro, a autora escreve uma peça em que estão presentes os momentos característicos do trabalho analítico: o acolhimento da queixa e da angústia do paciente, o manejo da resistência, a transferência, o interesse na palavra do paciente, o silêncio do analista ao ser chamado repetidamente a falar e a regra fundamental da psicanálise, a única regra que há, de falar o que vier à cabeça, que se faz presente pela postura do analista. O paciente fala, lembra, fala. E, pelas mãos de Freud, pode ouvir o que diz e ver o papel que uma recordação infantil tem na sua obra. Esse é um momento importante na análise, quando o paciente começa a saber mais sobre si. E Freud prossegue com suas perguntas para que o paciente fale. Ele sabe que há algo mais a ser dito, é necessário saber mais. Isso é o que se passa numa análise de verdade. É muito bonito ver encenado, colocado para todos verem, aquilo que só um analista e seu paciente vivem e sabem.
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]]>Para relatar este encontro, a autora escreve uma peça em que estão presentes os momentos característicos do trabalho analítico: o acolhimento da queixa e da angústia do paciente, o manejo da resistência, a transferência, o interesse na palavra do paciente, o silêncio do analista ao ser chamado repetidamente a falar e a regra fundamental da psicanálise, a única regra que há, de falar o que vier à cabeça, que se faz presente pela postura do analista. O paciente fala, lembra, fala. E, pelas mãos de Freud, pode ouvir o que diz e ver o papel que uma recordação infantil tem na sua obra. Esse é um momento importante na análise, quando o paciente começa a saber mais sobre si. E Freud prossegue com suas perguntas para que o paciente fale. Ele sabe que há algo mais a ser dito, é necessário saber mais. Isso é o que se passa numa análise de verdade. É muito bonito ver encenado, colocado para todos verem, aquilo que só um analista e seu paciente vivem e sabem.
Trata-se de um encontro que efetivamente se deu em agosto de 1910 pelas ruas e parques de Leiden. Foi um encontro peculiar pois Freud costumava atender seus pacientes diariamente, quatro e até cinco vezes por semana e o trabalho com Mahler foi a única psicoterapia de curta duração, por assim dizer, que fez. Foi um ano de muito trabalho e de diversas publicações sobre a teoria e a técnica psicanalíticas. Em maio de 1910 publicou o primeiro texto de uma coletânea que chamou Contribuições sobre a psicologia do amor, em que descrevia as “condições amorosas” para o homem que, ainda que parecessem incompreensíveis num primeiro momento, permitiam seu esclarecimento através da psicanálise. Alguns homens, disse, só se apaixonam por mulheres comprometidas, cuja fidelidade seja bem questionável e dê margem a um ciume doentio, o que para eles é o meio de chegar à paixão avassaladora e de colocar a mulher num alto valor. Ele vai ligar essa condição ao relacionamento do menino com seus pais. A teoria psicanalítica estava em construção e o caso de Mahler certamente veio enriquecer o trabalho de Freud naquele momento.
O interesse de Freud durante muito tempo esteve no desenvolvimento psíquico masculino, chegando a dizer que a mulher percorria um caminho simetricamente igual ao do homem (o que posteriormente constatou ser um equívoco). Somente em 1931 se dedicou ao estudo da sexualidade feminina, que o apaixonou e fez com que perguntasse: ”O que quer uma mulher?”
Podemos observar na peça que o lugar da mulher, aos olhos do marido, era junto a ele, abrindo mão de seus desejos. Alma Mahler, talentosa compositora, deveria ficar satisfeita de cuidar dos negócios do marido. Trata-se do machismo da época que a autora da peça, com muita sensibilidade, mostra nas palavras de Mahler. Freud, evidentemente, na posição de analista, não faz nenhuma observação a respeito.
Ao ler o relato dos casos atendidos por Freud, vemos que ele falava bastante. Alguns momentos da peça mostram isso. Ele perguntava, esclarecia, tanto para fazer o paciente pensar como para tirar algumas dúvidas. O que ele não fazia – e não se faz ainda hoje – era ‘atropelar’ o paciente. Na cena analítica só há um sujeito, que é quem trabalha, se expõe e através do trabalho manifesta idéias inconscientes que irão apontar para o desejo. Na análise só há um sujeito, o paciente. O analista é (apenas) um objeto no processo. Assim, na posição de analista ele pode falar até mesmo para estimular que o paciente fale. Por exemplo, quando pergunta por que Mahler não casou com uma mulher de nome Maria e este responde que o nome da mulher é Maria. E esta resposta deixa claro o desejo do paciente.
Parabéns a Miriam Halfin pelo texto cuidadoso, a Ary Coslov pela direção e aos dois atores, Giuseppe Oristanio e Marcello Escorel pelo Freud dedicado ao estudo da mente e pelo Mahler angustiado, se expondo, pedindo ajuda. Muito bom.
Maria Lucia Whyte Braga, é psicanalista e escreveu esse texto após assistir a peça FREUD E MAHLER.
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