A Vontade como Princ\u00edpio da A\u00e7\u00e3o – Centro de Demoli\u00e7\u00e3o e Constru\u00e7\u00e3o do Espet\u00e1culo, de Antonio Carlos Bernardes. Imagem: Divulga\u00e7\u00e3o<\/p><\/div>\n

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O leitor que se deparar numa livraria com este livro de Antonio Carlos Bernardes pode se assustar. O t\u00edtulo lembra algo de Schopenhauer e n\u00e3o estar\u00e1 errado. Na verdade, ao contar a hist\u00f3ria do Centro de Demoli\u00e7\u00e3o e Constru\u00e7\u00e3o do Espet\u00e1culo, que atuou nos anos 90 no Rio de Janeiro sob a dire\u00e7\u00e3o de Aderbal Freire-Filho, o autor flerta com a filosofia.<\/h3>\n

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O coletivo de artistas que se engajaram nessa aventura tinha alguns princ\u00edpios b\u00e1sicos: ocupar um espa\u00e7o hist\u00f3rico para um programa integrado de teatro; desenvolver, num trabalho continuado, as pesquisas c\u00eanicas de um diretor brasileiro; valorizar o conhecimento cient\u00edfico da arte teatral atrav\u00e9s de estrat\u00e9gias pr\u00e1tico-te\u00f3ricas: ensaios abertos, oficinas, semin\u00e1rios, confer\u00eancias; contribuir para o aprofundamento das discuss\u00f5es sobre a peste do teatro brasileiro, convidando artistas de teatro do Brasil para debates, conversas e discuss\u00f5es; convidar o teatro da Am\u00e9rica e de outros mundos para Copacabana.<\/h3>\n

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N\u00e3o deixa de ser um projeto filos\u00f3fico no seguinte sentido: seu objetivo era o de revolucionar pr\u00e1ticas e dogmas sedimentados na base c\u00eanica de montagem de espet\u00e1culos e discutir o passado, o presente e o futuro do teatro.<\/h3>\n

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Come\u00e7ou em 1989, no Teatro Gl\u00e1ucio Gill, e terminou em 1994, no Teatro Carlos Gomes.<\/h3>\n

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Aderbal conta a lenda de que Derrida saltou na Esta\u00e7\u00e3o Cardeal Arcoverde do metr\u00f4, entrou no teatro e interrompeu o ensaio de A Mulher Carioca aos 22 Anos para dizer, rindo, que aquilo era pura desconstru\u00e7\u00e3o, uma desmontagem, um entendimento novo. Mas o diretor \u00e9 bem mais comedido: entende o Centro como express\u00e3o do conceito simples de que o teatro constr\u00f3i sobre ru\u00ednas, sobre demoli\u00e7\u00f5es. Cada Hamlet \u00e9 levantado toda noite sobre demoli\u00e7\u00f5es de Shakespeare.<\/h3>\n

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Ao longo de sua trajet\u00f3ria de seis anos, muitos artistas participaram ou foram convidados: M\u00e1rcia Duvalle, Cl\u00e1udio Marzo, Othon Bastos, Rog\u00e9rio Fr\u00f3es, Domingos de Oliveira, Ana\u00a0 Lu\u00edsa Cardoso, Paula Feitosa, Carmen Frenzel, Leonardo Netto, Xando Gra\u00e7a, Gillray Coutinho, Ca\u00edque Ferreira, Dudu Sandroni, Chico Diaz, Or\u00e3 Figueiredo, Thiago Justino, L\u00eddia Kosovski, entre outros.<\/h3>\n

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Quem pensa que Aderbal come\u00e7ou a reproduzir em cena romances na \u00edntegra e n\u00e3o originais diretamente escritos para o teatro h\u00e1 pouco tempo est\u00e1 redondamente enganado. A estreia do Centro de Demoli\u00e7\u00e3o em 1989 foi justamente com A Mulher Carioca de 22 Anos, um romance de Jo\u00e3o de Minas. A experimenta\u00e7\u00e3o (mais ou menos) recente de O P\u00facaro B\u00falgaro, romance de Campos de Carvalho, \u00e9 apenas a continua\u00e7\u00e3o natural dessa experi\u00eancia.<\/h3>\n

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O livro de Antonio Carlos Bernardes \u00e9 ricamente ilustrado por fotos, maquetes, croquis e cartazes dos espet\u00e1culos encenados pelo Centro de Aderbal, com fichas t\u00e9cnicas e resenhas (nem sempre positivas) dos cr\u00edticos da \u00e9poca.<\/h3>\n

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A Vontade como Princ\u00edpio da A\u00e7\u00e3o \u2014 Centro de Demoli\u00e7\u00e3o e Constru\u00e7\u00e3o do Espet\u00e1culo, de Antonio Carlos Bernardes. Arte de Juliano Werneck e Orelha de Lu\u00eds Artur Nunes. ACB Produ\u00e7\u00f5es Art\u00edsticas, 2022.<\/h3>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

O leitor que se deparar numa livraria com este livro de Antonio Carlos Bernardes pode se assustar. O t\u00edtulo lembra algo de Schopenhauer e n\u00e3o estar\u00e1 errado. Na verdade, ao contar a hist\u00f3ria do Centro de Demoli\u00e7\u00e3o e Constru\u00e7\u00e3o do Espet\u00e1culo, que atuou nos anos 90 no Rio de Janeiro sob a dire\u00e7\u00e3o de Aderbal Freire-Filho, o autor flerta com a filosofia.   O coletivo de artistas que se engajaram nessa aventura tinha alguns princ\u00edpios b\u00e1sicos: ocupar um espa\u00e7o hist\u00f3rico para um programa integrado de teatro; desenvolver, num trabalho continuado, as pesquisas c\u00eanicas de um diretor brasileiro; valorizar o conhecimento cient\u00edfico da arte teatral atrav\u00e9s de estrat\u00e9gias pr\u00e1tico-te\u00f3ricas: ensaios abertos, oficinas, semin\u00e1rios, confer\u00eancias; contribuir para o aprofundamento das discuss\u00f5es sobre a peste do teatro brasileiro, convidando artistas de teatro do Brasil para debates, conversas e discuss\u00f5es; convidar o teatro da Am\u00e9rica e de outros mundos para Copacabana.   N\u00e3o deixa de ser um projeto filos\u00f3fico no seguinte sentido: seu objetivo era o de revolucionar pr\u00e1ticas e dogmas sedimentados na base c\u00eanica de montagem de espet\u00e1culos e discutir o passado, o presente e o futuro do teatro.   Come\u00e7ou em 1989, no Teatro Gl\u00e1ucio Gill, e terminou em 1994, no Teatro Carlos Gomes.   Aderbal conta a lenda de que Derrida saltou na Esta\u00e7\u00e3o Cardeal Arcoverde do metr\u00f4, entrou no teatro e interrompeu o ensaio de A Mulher Carioca aos 22 Anos para dizer, rindo, que aquilo era pura desconstru\u00e7\u00e3o, uma desmontagem, um entendimento novo. Mas o diretor \u00e9 bem mais comedido: entende o Centro como express\u00e3o do conceito simples de que o teatro constr\u00f3i sobre ru\u00ednas, sobre demoli\u00e7\u00f5es. Cada Hamlet \u00e9 levantado toda noite sobre demoli\u00e7\u00f5es de Shakespeare.   Ao longo de sua trajet\u00f3ria de seis anos, muitos artistas participaram ou foram convidados: M\u00e1rcia Duvalle, Cl\u00e1udio Marzo, Othon Bastos, Rog\u00e9rio Fr\u00f3es, Domingos de Oliveira, Ana\u00a0 Lu\u00edsa Cardoso, Paula Feitosa, Carmen Frenzel, Leonardo Netto, Xando Gra\u00e7a, Gillray Coutinho, Ca\u00edque Ferreira, Dudu Sandroni, Chico Diaz, Or\u00e3 Figueiredo, Thiago Justino, L\u00eddia Kosovski, entre outros.   Quem pensa que Aderbal come\u00e7ou a reproduzir em cena romances na \u00edntegra e n\u00e3o originais diretamente escritos para o teatro h\u00e1 pouco tempo est\u00e1 redondamente enganado. A estreia do Centro de Demoli\u00e7\u00e3o em 1989 foi justamente com A Mulher Carioca de 22 Anos, um romance de Jo\u00e3o de Minas. A experimenta\u00e7\u00e3o (mais ou menos) recente de O P\u00facaro B\u00falgaro, romance de Campos de Carvalho, \u00e9 apenas a continua\u00e7\u00e3o natural dessa experi\u00eancia.   O livro de Antonio Carlos Bernardes \u00e9 ricamente ilustrado por fotos, maquetes, croquis e cartazes dos espet\u00e1culos encenados pelo Centro de Aderbal, com fichas t\u00e9cnicas e resenhas (nem sempre positivas) dos cr\u00edticos da \u00e9poca.     A Vontade como Princ\u00edpio da A\u00e7\u00e3o \u2014 Centro de Demoli\u00e7\u00e3o e Constru\u00e7\u00e3o do Espet\u00e1culo, de Antonio Carlos Bernardes. Arte de Juliano Werneck e Orelha de Lu\u00eds Artur Nunes. ACB Produ\u00e7\u00f5es Art\u00edsticas, 2022.<\/p>\n","protected":false},"author":31,"featured_media":102574,"comment_status":"closed","ping_status":"open","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"_acf_changed":false,"footnotes":""},"categories":[69],"tags":[],"acf":[],"yoast_head":"\n