fbpx
Álvaro Assad e Márcio Moura

ESPERANDO BELTRANO / A SIMPATIA E O VIRTUOSISMO DO ETC. & TAL

O grupo Etc. & Tal está de volta com um espetáculo que revisita seu primeiro trabalho (Fulano e Sicrano, de 1999), mas comprometendo-se a falar de temas profundos, como o tempo, o envelhecimento e o amadurecimento do artista em suas já famosas pantomimas literárias.

Essa aproximação com o Teatro do Absurdo através de uma linguagem gestual e gromelôs de vários graus & calibres compõe o substrato básico para seu desenvolvimento em cinco cenas que se interligam não necessariamente através de uma continuidade, mas por uma sutil colcha de retalhos.

O trabalho está milimetricamente elaborado em torno de uma ideia central e suas decorrências, entretecida como uma teia de aranha com inúmeras variantes e atalhos

Escrita pelos atores e mímicos Álvaro Assad e Márcio Moura, Esperando Beltrano é um primor de sacadas cômicas que vão desde a elegância da linguagem até a escatologia mais rústica, passando pelas doses de histrionismo e virtuosismo físico que são a marca registrada do grupo desde sua fundação.

A peça já começa bem, com citações de diversos postulados clássicos de Aristóteles, segundo os quais não há escapatória para os personagens: eles precisam seguir seu destino. Além do texto, a sequência de esquetes está sedimentada no tradicional esmero das interpretações dos atores.

Depois do prólogo parodicamente erudito, vem a história hilariante e trágica de Elizabeth Maria narrada por Álvaro ao microfone e a pantomima energética e bizarra de Márcio Moura falando uma língua inventada no sentido de pontear o discurso com sua performance.

Segundo informações in loco dos próprios atores, esta série de infortúnios da vítima já estava no espetáculo de estreia, com um leve puxadinho acrescido ao enredo nesta nova apresentação. É, sem dúvida, o ponto alto, onde se imbricam com total liberdade de expressão todas as propostas do grupo: o lirismo, a bufonaria, a reflexão sobre o acaso interferindo na vida das pessoas, a comicidade sarcástica, o virtuosismo.

É um humor diferenciado, às vezes ácido, por vezes, delicado, como, por exemplo, na hilária sequência onde dois clowns idosos apostam corrida com um andador; no Teatro Narrativo, ambos contam a hipotética (ou verdadeira) linhagem de suas famílias, com algumas histórias emotivas, afetuosas e amargas e outras nem tanto.

Segundo Assad, responsável pela direção e a preparação mímica, o Etc. e Tal foi fundado em 1993 e tem um repertório de 10 espetáculos, que são revisitados em cena nesta nova performance. Para os que não vivenciaram, é uma espécie de segunda chance. Esperando Beltrano é a espera do espectador e finalmente seu encontro presencial depois da pandemia (se é que ela realmente acabou). Portanto, a peça é inédita apenas em parte.

Essa releitura é interessante e serve de ponto de partida para que as novas plateias possam usufruir e entender a trajetória de um grupo que tem quase trinta anos de vida e aprimora sua técnica a cada espetáculo.

 

Esperando Beltrano está em temporada no Espaço Multiuso do SESC Copacabana. Informações, endereço, horários, ficha técnica e ingressos, veja em https://teatrohoje.com.br/2022/08/04/esperando-beltrano/