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TEATRO SERGIO PORTO

Novos pontos de vista sobre o teatro carioca, no Centro e na Periferia

Despacho executivo para projeto sem licitação. | Imagem: DO
Despacho executivo para projeto sem licitação. | Imagem: DO

 

Realizado no último dia 5 de abril, com transmissão online via youtube, o II Forum TH da Teatro Hoje convidou três artistas para um debate sobre as pautas Cenas Periféricas e Programações Cênicas. Como se sabe, centro e periferia são uma via de mão dupla.

Por isso, Teatro Hoje resolveu ouvir as experiências realizadas por artistas de teatro que desenvolvem trabalhos fora dos centros urbanos que trouxeram outras questões a serem avaliadas e recicladas de acordo com novos pontos de vista.

Era necessário e urgente que essa simbiose ocorresse para que as comunidades estabelecessem um diálogo entre si, trocassem informações e eventualmente trabalhassem em projetos conjuntos; caso do ator João Velho, por exemplo, junto ao grupo Nós no Morro. É a atriz Gleice Uchoa quem conta a trajetória do processo. Inicialmente, chamaram-no para dar aulas. Exercícios, leitura de textos, performances. Satisfeito com o resultado, acabou ficando e estabelecendo um regime comunitário e democrático de ações: todos participariam de tudo, desde o aspecto técnico à limpeza de banheiros e varrer o palco.

Como primeiro fruto desse trabalho, Nós no Morro escolheu o clássico brasileiro Eles não Usam Black-tie, do Gianfrancesco Guarnieri, que teve direção do próprio João Velho e participação de todos os envolvidos. Encenada em sua sede, o espetáculo teve uma adesão maciça do público, com ingresso grátis. Uma vitória, sem dúvida, pois o pessoal do Vidigal pôde assistir a uma versão politizada e comprometida com o atual estado de coisas que acontece no país.

Leandro Santana, ator e produtor no Rio de Janeiro e em Queimados (RJ) não foi tão otimista: depois de desenvolver, por anos, um excelente trabalho com o grupo Queimados em Cena, tiveram que entregar sua sede, por falta de apoio de todas as esferas do Governo. Sempre disposto a lutar por um espaço para o teatro na periferia, certa vez, junto com vários artistas da Baixada Fluminense, tentou negociar junto ao dono de um shopping center em construção em Nova Iguaçu, a reserva de pelo menos uma das inúmeras salas de cinema para teatro. Ouviu o de sempre: Não há demanda.

No intuito de afrontar essa ideia, bolaram uma estratégia matadora: organizaram uma série de espetáculos infantis e stand ups na área de alimentação do Shopping, que deu tão certo na afluência de público que desmoralizou o aforismo de que não há demanda para teatro num shopping, beneficiando com arte e cultura não só as plateias quanto os bares e restaurantes do local, que passaram a lucrar mais que antes.

Joelson Gusson, ator e programador cultural no Rio de Janeiro e em Colatina (ES) também apresentou um panorama desolador, mas realista, das condições de trabalho de um artista em cujo currículo tem nada menos que a gestão do teatro Sérgio Porto por cinco vezes, junto com Daniela Amorim (projeto ENTRE). Foram eles os responsáveis pela programação eclética de anos e anos à frente do teatro. Segundo Gusson, acabou perdendo o emprego por não contemplar com pautas os amigos, negando-se a continuar com a já arraigada vocação nepotista que grassa no balneário desde tempos imemoriais.

Não poupou o prefeito Eduardo Paes e muito menos o Secretário de Cultura Marcos Faustini, que aceitou o cargo com a promessa de recuperar as salas de espetáculo do Rio de Janeiro, mas que nada fez quanto a isso até agora. Pelo contrário: colocou para gerir os teatros municipais um pessoal completamente descompromissado com as artes cênicas antes da hora, pois as salas estão em petição de miséria, com bares fechados e sem bilheteria. Ou seja: cada grupo tem que se virar para montar ou não uma bilheteria e o público não tem nem como comprar água enquanto espera a hora do espetáculo.

Como justificativa, alegam há dois anos o de sempre: não há dinheiro em caixa. Gusson discorda: dinheiro há, o que não há é vontade política e cultural. Segundo suas contas, baseadas na transparência da Secretaria, com 5,5 milhões de reais daria para restaurar todas as salas de espetáculo da cidade maravilhosa, mas Faustini preferiu dar 4 milhões à Débora Colker, dinheiro suficiente para financiar 120 projetos de teatro.

Resumindo: os depoimentos do fórum deram uma panorâmica alarmante, mas esperada: com pandemia ou sem, a ausência do poder público na área teatral continua na mesma balada. É um processo histórico. Sem licitações e editais, a área cênica carioca carece de gestores que estejam à altura do cargo. O que esperar da esfera federal? Nada. O próprio presidente acaba de vetar a verba para a Lei Paulo Gustavo sob a alegação que não sabe de onde sairia o dinheiro. Três ministérios se locupletaram para boicotar o que deveria ser prioridade.

 

Link para o vídeo do II Forum TH no Youtube:
https://youtu.be/yejHFOaecR0